sexta-feira, 2 de março de 2007

Alegra-te alma clara

Fugi, abandonei todo e qualquer pretexto para ser feliz. A felicidade passou a ser um termo gasto, fora de tom, cheio de saudade, com muita mágoa, proferido sem sentido, nos dias tristes e longos que enfrento. Sendo o fim da alegria, transporto uma longa arca cheia de lembranças, que pretendo deixar no mar, numa falésia bem alta e gritar: Viva a tristeza!
Entoo cânticos de fazer chorar tudo o que se diz feliz e alegre, mas sei que mais dia, menos dia, irão todos me dar o devido valor e cantar comigo, em alto e bom som, que chorar as tristezas é algo que faremos com prazer, mas sem alegria, será algo que faremos naturalmente com todas as tristezas do mundo e nos transtornará de tal forma, de tal maneira, que serão necessários vários milhares de anos para que se consiga identificar o que quer dizer a palavra alegria. Podemos mesmo ter que a esquecer e nunca mais a proferir, sendo uma blasfémia, não em termos religiosos, mas sim terrenos, concretos.
Sei que será uma tarefa fácil, pois será a antítese do que tenho hoje, mas nada é fácil, mesmo o ser negativo é difícil de manter-se assim durante muito anos, até séculos. Terei técnicas, como o silêncio, ou até mesmo abdicar de conversar, sendo essa a essência do que se pretende. O diálogo, na sua forma mais pura, leva à alegria, logo deverá ser mantido única e exclusivamente para pedir algo que não consigamos por outros meios. A língua, sendo única entre povos, será outro pilar para a tristeza. Neste ponto terei que pedir ajuda a alguém, mas esse alguém terá que ser mais triste que eu. Será fácil executar, pois não necessitamos de muitas palavras para sobreviver. Este tema é no entanto antagónico, logo utópico, pois, e mais uma vez, contraditório, por ser fácil e difícil, só por isso, não pela antítese do tema em si, mas sim pela dificuldade em executa-lo.
Em tudo há excepções, mesmo aqui, mas neste caso, não há, mas deveria, assim, irá haver. Ora, qual a melhor forma que conhecemos de nos tornarmos alegres? Exacto, o diálogo. Ora, em casos extremos e só nesses, sendo estes os que são utilizados para subverter as regras, sendo só neste sentido, para atingir a tristeza plena, que é tornar-me triste para o resto da minha existência, mesmo depois de padecer, só nesse caso extremo, poder-se-á utilizar o diálogo.
Em caso algum se pode utilizar o riso, ou rir, nem mesmo sorrir, mesmo que sendo em situações nefastas, ou que provoquem riso, como o cair sem razão aparente. Assim, e repito, em caso algum!
Mantendo uma coerência insana, terei as forças todas da alegria do meu lado, mas saberei afasta-las, mantendo os meus pensamentos de falta de dialogo, profundamente enraizados no meu eu, na minha alma, na minha mente, sendo acessível por outros, que a queiram contrapor, sendo esses os primeiros a serem infectados pela verdadeira tristeza, pela forma essencial de tristeza, aquela que nos faz querer ficar assim para o resto da vida, tristes. Não confundir com a vontade de querer morrer, pois essa é subvertida, sendo muitas vezes utilizada como forma de escape e até, em situações extremistas: a fuga! Assim, morte não consta na minha forma de pensar, pelo menos na minha, no entanto nutro a tristeza de a não poder executar, ou de a ter, bem como a de não poder controlar.
Não quero com isto fazer com que haja milhares de indivíduos convertidos, pois isso seria alegre verificar que consegui fazer passar toda a minha tristeza para os demais, será sim mais triste achar que há pessoas que conseguem entender o que estou a falar e até mesmo identificar-se com o que penso, fazendo da vida delas a mesma que a minha. Isso neste ponto de vista, torna as coisas bem tristes e assim serei um triste, verdadeiramente triste e poderei ser triste com mais pessoas, não havendo forma de ser alegre, qualquer que seja a razão para o ser.
Mesmo que…

Bom grito!

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