sexta-feira, 12 de junho de 2009

Era uma vez...

Era uma vez um homem…

- Ah, vá lá, consegues ser mais original que isso!
- Já te disse que não te quero aqui!
- Mas...
- Nem mas, nem mais meio mas! Não te quero aqui! Já disse!
- Mas...
- Mas outra vez?
- Estou triste e vou-me embora.
- Fiquei agora cheio de pena de ti... Oh, coitadinho!
- Adeus!
- Baza!

Era uma vez um homem que vivia a sua vida duma forma silenciosa. Tinha poucos amigos...

- Vá lá, deixa lá...
- Ainda ai estás?!
- Não quero que fiques chateado comigo, só quero que tudo corra bem, nada mais.
- Vais, ou não vais?
- Agora que perguntas, digo-te: não vou!
- Então está bem.
Era uma vez um homem que me chateava tanto a cabeça...
- Pronto, eu vou.
- Tens medo que eu possa dizer de ti, é isso?
- Não! Eu não tenho medo de nada!
- Muito bem.

Era uma vez um homem que me chateava tanto a cabeça e tive...

- Pára! Não digas mais. Eu vou... triste e pesaroso, mas vou.
- Sim, vai e vê se não voltas. Ficaria por demais feliz.
- Eu, logo eu, que tanto fiz por ti. Não entendo.
- Claro...

Era uma vez um homem que me chateava tanto a cabeça, mas tanto que tive de seguir com a minha modesta vida, e honesta e sem ter de recorrer a estratagemas mirabolantes, sem ter de recorrer a mentiras sagazes, queria ser eu pela primeira vez. Assim fiz...

- Não estou a perceber onde queres chegar...
- Eu não acredito! TU ainda aqui??!! Podes ir embora, por favor?
- Oh! Não queria incomodar a tua genialidade. Desculpa, sim, desculpa-me, peço-te desculpa, não foi por mal, sim?
- Pára! Chateias-me!
- Eu vou, sim, eu vou e... bem, vou-me e pronto.
- Finalmente! Já era sem tempo!

Assim fiz. Pus-me no caminho da minha consciência, enveredei por caminhos mais simples e menos tortuosos, ou seja, passei a comer mais peixe e a por menos sal na comida. Tem sido...

- Mas o que uma coisa tem a ver com a outra?
- TU?
- Desculpa... sim, eu tinha prometido, mas sabes que eu não suporto ver-te a arruinar um texto desta forma... Fico pensativo e julgo que está a falar de outras pessoas que conheci.

E mais uma vez…era uma vez um homem, que já nem sei se era mesmo mas que era chato. Entrei nos meus pensamentos estapafurdiamente incógnitos e de repente vi…

-Ah! Desculpa interromper, mas tu não viste…foste visto!
-OUTRA VEZ? Parece-me que é hoje que vou ter de desencantar de mim um sentimento de revolta quiçá atroz para com a tua pessoa.
-Bah! Sim…já sei… vou embora! Tenho pena em ver-te a afundar num estado de tortura literária.

Vi que poderia ser uma pessoa diferente, sorrir mais, fazer exercício físico e de vez em quando ir ao parque ver as pombas defecarem nas estátuas imóveis até ficarem de cor esverdeadamente branca.

-Psstt! Mas isso é uma cor nova?
-Eu não volto a falar de modos modestos contigo.
-Logo eu que sou tão teu amigo, ouve-me por favor!
-Amigo? Tu?
-Claro!
-A sério, não entres por esses caminhos sem saída. Já falamos sobre isto à umas linhas atrás, recordas-te?
-Esquece o passado!
-Mas ESTÁS PARVO?
-Mas…
-BAZA, SOME-TE, ESFUMA-TE!
-Como queiras…mas…
-Ssshhhhiuu!
-Mas…
-Cala-te!

Seriam essas novas atitudes que me fariam recuar e ponderar o que fiz anteriormente. A busca pela nova pessoa que queria ser, e sabia que por fim iria encontrar-me. Um calafrio percorreu-me a espinha…sim! Era eu! Tanto que me quis encontrar. Mas porque estarei eu metido dentro de uma escorregadia e perfumada caneca vitrificada que me espeta os olhos de tanto ardor? Ah…descobri que…

-Eu não disse? Eu avisei!
-Vais morrer!
-Morte natural ou provocada? É que estou cheio de medo!
-Desaparece de vez! Olha que não respondo por mim! E dizes-te meu amigo..pois sim!
-Tem calma, sim? Só vim buscar os meus chinelos de quarto.
-Leva tudo e desaparece!
-Já estou a ir…mas…estou mortinho para ver onde te vais meter com os teus…
-Com os meus quê? DIZ! FALA!
-AH! É melhor não. Não quero estragar a surpresa.
-Cobarde!
-É, É! Chama-lhe nomes!
-DESAPARECE JÁ!

Descobri que podia ser feliz e a redoma que me envolvia, protegia-me de intempéries, picos, espinhos, lavagantes e da crescente vaga de crimes inidóneos. Sabia e soube sempre que a minha vida teria de ser mantida fora desta vitrina que me isola, mas não queria estar exposto...

- Oh! Que fofo... Tenho quase pena de ti... Coitadinho.
- Bem, bem! Tu queres ver que te vou aos fagotes?!
- Não te enerves, que faz rugas!
- Estás a gozar?
- Não, estou a ri-me de algo que li ontem em casa dum amigo.
- Já tens os chinelos? Podes agora ir?
- Já. Vou-me deitar. Vens?
- Que pergunta! Claro que não!
- Anda lá...
- Cala-te, já disse! E vai-te!

Não queria ficar exposto a tentações externas, a mal feitores maliciosos, que prevaricam a minha mente vazia de engarrafamento, não conspurcada pelo assaz assombro de estar sempre a dizer mentiras, ou, muito simplesmente, só porque não tenho dinheiro. Assim, tal como noutros dias em que me tornei forte, livre de preconceito e libertei-me.
Para além de ter saído do frasco, vitrina da vida, livrei-me da minha irritante consciência e zarpei a todo o gás pela auto-estrada da vida a sós. Tentei embevecer-me e concentrar-me no que tinha dito à momentos. Talvez numa tentativa errática de querer deambular por esse caminhos obscuros, tenebrosos, tortuosos, complexos e ansiosos por novas descobertas.
Sai. Cá fora está bem mais frio. Devia ter trazido um agasalho. Palmilho tudo com cuidado extremoso. Tudo me é muito desconhecido, tudo me é estranho, nem sei bem por onde começar. Tendo um objectivo em mente: tomar uma bebida forte, sem ser preciso pedir.
Tal como estava, fui. Pedi as chaves de casa a um estranho. Com relutância cedeu-mas. Ainda lhe perguntei as horas, mas achou que eu estava a abusar e bateu-me com força no rabo. Gostei.


- OK! Já chega! Estás a ir por caminhos que eu conheço. Estás a querer dizer algo que não tenhas coragem de dizer cara a cara?
- Se voltas a aparecer aqui, eu faço-te em picado! Te garanto!
- Eu até gosto de empadão...
- Tu...!
- Estou a ir, estou a ir... Ai, não se pode brincar, que susceptível!
- É agora que te vou matar! Anda cá! Ah! Agora foges! Ai se te apanho desfaço-te!

Entrei numa sala escura que tinha uma luz ao fundo, portanto era uma sala semi iluminada…ou não? Ai que dilema da vida! Penso nisso depois. Algo me incomodava a parte traseira e não sei bem explicar o que era. Fiquei farto daquela sala, era semi escura e não gostei do papel de parede. Desci. Apeteceu-me de repente ir andar naqueles autocarros de turistas com capota descoberta (não sei explicar lá muito bem o nome técnico). Subi. Consegui ver o horizonte. Era belo e bastante extenso visto a partir dos intervalos dos prédios. Aahhh…que perspectiva! Parou. Desci. Continuei a caminhar e deparei-me em frente de uma lavandaria. Decidi livrar-me da minha sombra. Faz-me mais gordo dependendo da posição do sol. Deixei-a a porta da lavandaria para uma lavagem a seco ou manual, conforme as senhoras desejarem porque a sombra não é esquisita. Pode ser que depois volte a querer usá-la.

-AAAHHHH! Palmas…não…a sério…palmas. Finalmente admites!
-Admito o quê?
-Que te sentes sujo!
-Olha, estás bem?
-Perfeito!
-Não parece.
-Mas admites ou não?
-Admito o quê?
-O que disse antes.
-Oh!
-Quem cala, consente!
-Mas eu não disse nada.
-Exacto!
-Vai-te embora…por favor. Deixas-me exausto!
-Por isso é que dizes a verdade. Acho que sendo assim fico!
-Não ias dormir, deitar a cabeça na almofada, ir para a terra dos sonhos e tal?
-E perder este maravilhoso espectáculo? Não me parece.
-Só sossegas quando me vires em ponto de rebuçado não é?
-Depende…
-De quê?
-Explodes é?
-Não…
-Então?
-Dou-te um murro e ficas com os dentes colados…que tal?
-Ah bom! Não precisas dizer mais nada.
-Então vais embora suponho!
-Vou…mas volto já para buscar a lâmina da barba.

Na praça contígua, encontrei uma estátua. Era duma mulher nua. Fiquei excitado, mas depois de ver a parte de trás da estátua perdi a excitação. Pensei de novo na casa onde tinha estado e subi de novo para o autocarro (Ah! Lembrei-me no nome: Hop On Hop Off. Eu sabia que ia acabar por me lembrar.) e saí na última paragem, pois já não me lembrava onde tinha subido, quando sai da casa do estranho. Entretanto como tinha travado conhecimento com uma estrangeira no autocarro, cedi-lhe as chaves da casa e disse-lhe que a casa ficava na cidade. Ao que ela ficou muito agradada. Sei que iria dar com a casa por certo, pois numa cidade como estas, onde vivem cerca de 3 milhões de pessoas e há duas a três casas por pessoa, seria de facto uma tarefa fácil. Senti-me aliviado e feliz.
A fome apoderou-se de mim e conhecia um restaurante muito bom na zona. Dirigi-me para lá. Era perto da casa do desconhecido. Engraçado, agora tinha reparado que já sabia onde era a casa e vi as chaves da casa do dito desconhecido, no chão. Fiquei triste, pois sentia-me sem rumo e sem sentido. A estrangeira tinha recusado a minha, nossa, hospitalidade. Mas de qualquer forma, peguei nas chaves e dei a um mendigo, que prontamente mas devolveu a dizer que não aceitava. Eu não sabia o que fazer com a porcaria das chaves...


- Ainda as tens?
- Desculpa?
- Se ainda tens as chaves?
- Oh meu grande anormal! Isto é uma história e é tudo inventado. Não consegues entender isso?
- És cruel...
- Bem, vejamos. Estás a ver esta faca?
- Não estou a entender...
- Não? Parece-me bem que sim.
- Não estou, a sério que não estou. Estás a deixar-me preocupado.
- Ah! Agora estás preocupado! Sim, sim, entendo. Pois meu caro amigo, eu avisei e agora não há ponto de retorno.
- Mas... e a nossa amizade? E nós? Não! Não faças isso... Eu vou-me embora, sim, eu vou. Pára! Arghhhh.
- Hum... que giro, estou a sentir uma faca a espetar-me na barriga.
- Arghhhh... claro… Arghhhh... é normal, eu sou só a tua consciência, logo eu sou o teu corpo... Arghhhh...
- Hã? Não estou a entender... és o quê? A minha consciência? Ahahah! E queres que eu acredite nisso? Isso é truque meu amigo. Bolas, que está a doer um pouco... Que estranho…
- Pára! Tu vais morrer assim... Arghhhh...
- Eu? Espera, deixa ver uma coisa. Acho que tens razão... esta é a minha barriga, esta é a minha mão e nela uma faca que penetra vagarosamente dentro do meu corpo. Oops! Isto não é nada bom...
- Eu nunca pensei... Arghhhh... que fosses tão estúpido! Bolas! Ainda bem que vou-te abandonar. Que és tão parvo! Bem… Arghhhh... tenho de ir. Adeus.
- Mas... mas... e... eu... Arghhhhhhhhhhhhh.


Texto conjunto
Autores:
J - PERFEITAMENTE IMPERFEITAS
Forass - Formiga Assassina

Sem comentários:

Enviar um comentário

CU menta!