segunda-feira, 11 de julho de 2005

Grito

No dia 25, saí, na noite difusa, corpos esvoaçantes de desejo, misturam-se na bruma do fumo do tabaco, que conspurca a pele, limpa, lavada, perfumada, suave. Algo me impele para o bar; serão as luzes, o olhar, o som, a sede. Tento não pensar muito nisso e dirijo-me autonomamente, sem dar contas a ninguém, nem se quer a mim. Olhos fixos na rapariga do bar e peço, sem tremer as mãos, sem soluçar, sem hesitações.
Um copo de água, por favor.
Contorcia-me ao som da música.
Sai, fui à casa de banho.
Quando voltei as pessoas estavam muito diferentes, só depois me apercebi que a música tinha mudado, bem como as luzes. Já a rapariga que me seguia para todo o lado, inclusive para a casa de banho, essa mantinha-se na mesma, como que se não fosse necessário dizer que eu estou ali, mas ela não teria que estar, mas estava e nada disso iria mudar a minha forma de pensar. De qualquer forma, mantinha a mesma postura desde à três horas. Calada, olhava-me, tocava-me no ombro e pedia algo, mas eu não compreendia, eu não a conseguia ouvir. Fiz um pequeno esforço, contudo ela ao ver que eu estaria interessado em saber o que ela teria para me dizer, ou pedir, correu e de um só salto, mergulhou na noite, caindo no chão, sem um único som. Saltou da varanda, sorte a do idoso que por ali passava.
Saí, fui à casa de banho.
No bar, pedi um copo de água.
A musica era cada vez mais intensa.
Com a alarido provocado pela garota, nada pude fazer, se não tentar encontrar alguém que a substituísse. Tarefa árdua, impossível, mesmo desesperante, até que por um milagre (coisa que não acredito), aparece um anjo. As vestes que trazia identificavam um sabor tórrido, seco e sem sal. Mas os olhos, tenros, e negros como a noite sem luar, transpareciam um súbito ar de desdém, que aos poucos se convertia em sufoco. Mais uma vez, nada pude fazer. Tal como a primeira, esta, ficou a meu lado, de uma forma diferente, mais colada, mais junta, por certo seria da idade. Em tudo diferente, mas em tudo igual, não só por ser um mulher, como eu sou o mesmo.
A música, aí esta música!
E vai mais uma copo de água...
A casa de banho, fica tão longe.
Sem querer deixar arrefecer muito a noite, passei ao ataque. Tentei por várias vezes prenunciar o meu nome, mas não sai nada, só grunhidos, sons sem sentido, ao que ela, respondia, “Prazer...”. Desde logo percebi que a comunicação estava condenada ao olhar. Dancei mais um pouco, já não sentia o chão, digo-vos que não é uma sensação fantástica, é mais na onda do surreal, do ‘se-bem! Tão juntos, tão fundidos, que pensei que tinha mudado de sexo. Julguei-me fora de mim, dentro dela, senti o meu sexo em mim. Assim que os meus lábios penetraram nos dela, tudo mudou, nada ficou, desde essa hora até ao dia seguinte e dentro dos próximos dois mil, trezentos, oitenta e 3 anos, não mais os vou largar, bem... posso fazer uma pausa de dois mil, trezentos, oitenta e 3 anos, menos duas semanas.
Bebi um shot de urina.
Dancei a casa de banho.
E, paguei a música.
Quando me dei conta das horas, soltei um grito lancinante!

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