terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

E se....?

 O frio gelado que percorria a rua, não tinha orientação, nem sentido, soprava certo de sítios que não sabemos ainda como os descrever, ou sequer se têm de ser descritos.

No fundo da rua um cão cruzava a rua, fitando quem passava, numa atitude desafiadora, mas ao mesmo tempo vagabunda. Há muito que as janelas das casas térreas se mantinham negras, sem luz e vida. As luzes exteriores dos candeeiros velhos e corroídos pelo sal do mar, cintilavam ténues e sem vontade e aquecer seja quem fosse, muito menos dar vislumbre a um pedaço de animal que jazia na beira do passeio. O cão, de olfacto apurado e magro que nem um cão, salivava, tal como eu, mas por razões bem diferentes. A minha fome não iria ser saciada por um pobre pedaço de pombo, a minha fome iria ser saciada na energia libertada entre a guerra que se iria apoderar de mim, na luta entre o canídeo e o humano desarmado e, por conseguinte, à partida sem qualquer hipótese de vencer.

No entanto, a determinação da luta, da vontade de conseguir ter algum tipo de vitória, mesmo que fosse ténue, apoderou-se a cada segundo de mim. O cão, farejava em delírio, só com o sentido do pedaço de pombo infecto. Mas por outro lado, todo o tamanho do humano, transformou-se num pedaço de bovino suculento. Os olhos maiores que a boca, trespassavam o meu peito, na busca da sede ser consumida. Nada podia fazer, senão lutar.

Como humano, poderia ter várias soluções, entre elas, o bluff que poderia ganhar uma luta desigual, ao imitir sons que apavorassem o pobre cão enfraquecido pelo jejum, ou então, pegar mesmo no animal em peso e partir-lhe a coluna, mesmo que isso envolvesse ser perfurado por caninos de uma força que esmaga, mas iria conseguir recuperar e por outro lado, o pobre coitado não.

Pensei de outra forma. E se lhe desse de comer e ficasse amigo dele?

Ainda hoje caminha ao meu lado e não há igual.

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