quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Bocage

Poema num só canto.

Argumento

Quando o preto Ribeiro entregue ao sono
Jazia, lhe aparece o deus Priapo;
E com uma das mãos por ser fanchono,
Lhe agarra na cabeça do marsapo;
Oferece-lhe depois um belo cono,
Cono sem cavalete, gordo e guapo;
Casa o preto, e a mulher, por fim de contas,
Lhe põe na testa retrocidas pontas.

Canto único

I
Acções famosas do fodaz Ribeiro,
Preto na cara, enorme no mangalho,
Eu pretendo cantar em tom grosseiro,
Se a musa me ajudar neste trabalho:
Pasme absorto escutando o mundo inteiro
A porca descrição do horrendo malho,
Que entre as pernas alberga o negro bruto
No lascivo apetite dissoluto.

II
Oh! Musa galicada e fedorenta!
Tu, que às fodas de Apolo estás sujeita,
Anima a minha voz, pois hoje a tudo intenta
Cantar esse mangaz, que a tudo arreita:
Desse vaso carnal que o membro aguenta,
Onde tanta langonha se aproveita,
Um chorrilho me dá, oh musa obscena,
Que eu com rijo tesão pega na pena.

III
Em Tróia de Setúbal, bairro inculto,
Mora o preto castiço, de quem falo;
Cujo nervo é de sorte, e tem tal vulto,
Que excede o longo espeto de um cavalo:
Sem querer nos calões está oculto,
Quando se entesa o túmido badalo
Ora arranca os botões com fúria rija,
Ora arromba as paredes quando mija.

IV
Adorno hirsuto ríspido pentelho
Os ardentes colhões do bom Ribeiro,
Que são duas maçãs de escaravelho,
Não digo na grandeza, mas no cheiro:
Ali piolhos ladros tão vermelho
Fazem com dente agudo o pau do leiteiro,
Que o cata muito vez; mas ao tocar-lhe
Logo o membro nas mãos entra a pular-lhe.

V
Os maiores marsapos do universo
À vista deste para traz ficaram:
E de novo Martinho em prosa e verso
Mil poetas a porra decantaram:
Quando ainda o cachorro era de berço
Umas moças por graça lhe pegaram
Na pica já taluda, e de repente
Pelas mãos lhe correu a grossa enchente.

VI
De Plifemo o nervo dilatado,
Que intentou escachar a Galateia,
Pelo mundo não deu tão grande brado
Como a porra do preto negra e feia:
Da Cotovia o bando galicado
Com respeito mil vezes o nomeia,
E ao soberbo estardalho do selvagem
As putas todas rendem vassalagem.

VII
O longo e denso véu da noite escura
Das estrelas bordado já se via;
E em rota cama a horrenda criatura
Os tenebrosos membros estendia:
Do caralho a grandíssima estatura
Com os lençóis encobrir-se não podia,
E a cabeça fodaz de fora pondo
Fazia sobre o chão medonho estrondo.

VIII
Os ladrões, que fiéis o acompanhavam,
A triste colhoada a cada instante
Com agudos ferrões lhe trepassavam,
Atormentados a besta fornicante:
Na duríssima pele se estranhavam,
Suposto que com a garra penetrante
O negro dos colhões a muitos saca,
E o castigo lhes dá na fera unhaca.

IX
Tendo o cono patente no sentido
Na barriga o tesão lhe dava murros;
E de activa luxúria enfurecido
Espalhava o cachorro aflitos urros:
Com a lembrança do vaso apetecido
O nariz encrespava com os burros;
Até que em vão berrando pelo cono,
De todo se entregou nas mãos de sono.

X
Já roncando os vizinhos acordava
O lascivo animal, que representa
Com o motim pavoroso que formava,
Trovão fero no ar, no mar tormenta:
Com alternados couces espancava
Da pobre cama a roupa fedorenta,
Que pulgas esfaimadas habitavam,
E de mil cagadelas matizavam.

XI
Eis de improviso em sonhos lhe aparece
Terrifica visão, que um braço estende,
E pela grossa carne que lhe cresce
Debaixo da barriga ao negro lhe prende:
Acorda, põe-lhe os olhos, e estremece
Como quem ao terror se curva e rende:
Com o medo que tinha, a porra ingente
Se meteu nas encolhas de repente.


(Continua...)

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