quarta-feira, 12 de maio de 2004

Quando te conheci.

Nada fazia pensar que nos iríamos conhecer assim, mas foi provavelmente a forma mais linda.
Acho que não te lembras... estás com essa cara de duvida, é porque não te lembras! É normal, já lá vão 45 anos, mas eu lembro-me como se fosse agora mesmo.
Estávamos em Abril e, por mais estranho que te pareça, chovia muito. Naquela altura Abril era um mês em que chovia muito, agora em Abril, se chover, é porque o tempo está todo maluco, engraçado não é? Adiante. Nesse dia como chovia muito e porque não tinha carro, nem ninguém a quem pedir ajuda e, como não podia conduzir, chamei um táxi. O desgraçado do taxista demorou mais de 20 minutos para aparecer. Achas que naquela altura valia a pena reclamar com alguém acerca destas coisas? Tens mesmo memória de galinha... É claro que se fosse hoje, teria táxi à minha porta em menos de 5 minutos e à minha disposição para qualquer ponto do país e durante pelo menos 2 anos, mas isso agora não interessa. Na altura só queria mesmo era chegar bem rápido aonde queria ir e de táxi era a única escolha possível! Mal entrei no táxi, disse o local para onde queria ir e que tinha muita pressa! Sim, naquela altura podia-se falar com os motoristas, não era nojo nenhum, nem se quer perigoso! Demorei cerca de 45 minutos a chegar ao centro da cidade. Não fiques com esse ar de espanto, porque na altura tudo o que era meio de transporte privado andava pela Cidade! Há isso já te lembras! Pois pudera, habituadinho a que te fossem sempre levar a todo o lado... ah pois! Mas também isso não interessa para nada agora. Lá consegui chegar ao local. Entrei, estava com muitas dores, não sabia o que fazer, estava à nora! Assim que uma enfermeira me viu, pegou em mim e levou-me. Ah! É verdade, tinha-me esquecido de dizer, eu estava num hospital. Desculpa! Também não é preciso ficares assim... Mas que parvoíce a tua, não dá logo para ver que estava num hospital? Até parecer que não te lembras... Continuemos. Mal a enfermeira pegou em mim, perdi logo os sentidos! Quando acordei estava numa maca, de barriga para o cima. As dores eram ainda maiores e vinham em vagas, nem imaginas o alivio que era quando não as tinha. Não imaginas mesmo! Eu dava voltas e voltas, só dizia: tirem-me esta dor, tirem-me esta dor! Mas para além de mim havia cerca de 10 a 15 num mesmo estado que eu e gritavam mais que eu, por isso, deixei-me estar. Até que após uma hora ou mais, uma enfermeira veio ter comigo e sem dizer palavra, conduziu-me por entre os corredores do hospital. Eu só via a luzes do tecto a passar, por mais que implorasse, ela não me dizia nada, aliás, só dizia para ter calma que ia tudo correr bem, mas as malditas dores que vinham com uma cadência cada vez maior! Aí! Só de pensar até me arrepio! Por fim a maca parou dentro de um quarto, cheio de luz. Pegaram em mim e, com muito cuidado, colocaram-me numa cama, de barriga para cima, de pernas abertas, apoiadas numa espécie de bengalas e fiquei com elas mais elevadas que o resto do corpo. O que achas que estava a fazer, oh estúpido?! TARADO! É claro que estava a espera para te conhecer! E passados 20 minutos, mais ou menos, lá vieste tu, todo lampeiro, todo cagado de sangue e a plenos pulmões, gritas-te: BUUUUAAAAAAAAAAA!!! E eu disse: pronto ‘tou lixada! Foi certinho direitinho...

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