quinta-feira, 27 de maio de 2010

Noites

Mais um cigarro, um chuto no vidro e a conversa continua. Fala-se de tudo e nada se sabe, só o prazer de ver e cantar, num embalar de dias.
- O que fará um pardal dentro duma gaiola? Não sei, mas... Será tudo o mesmo? – Perguntava Almeires.
Porque a conversa é sempre a mesma. Mesma... conversa… era a mesma. Um dedo no ar e um litro de sangria, fazia a alegria das crianças. O vinho era duma cor amarelada, vindo dum pais estrangeiro que não sei prenunciar o nome, mas começava por M. A conversa agora mantinha o mesmo teor de há duas horas e nada se sabia mais do que já se tinha falado no início, mas tudo se iria compor, pois o Alves estava mesmo a chegar e aí tudo iria fazer mais sentido, mais que não seja porque tínhamos de mandar vir mais uma cadeira e um outro jarro de zurrapa. Esperei de braços cruzados, mas não muito por causa das mamas. Levantei-me, estiquei os olhos e fui verter águas. Quando voltei, o Alves ocupara o meu lugar. Armei tal confusão que vieram dois jarros. Sentei-me no canto da mesa e esperei alegremente pela 55ª cadeira. Tiveram de ir comprar uma… achei aquilo tão amoroso que fiquei com a cadeira pelo preço que foi comprada há 15 anos atrás. Sentei-me então e ouvi, ouvi e ouvi o que o palhaço do Alves tinha para dizer. Depois e muito educadamente, falei e disse tudo o que tinha para dizer. Ouviram-me como nunca e depois de tudo ser dito, virei-me para o chefe de sala e pedi a conta. Mal estava a pedir a conta, já o Alvino tinha pago tudo. Espetei-lhe um valente beijo na boca. Ele queria mais, mas o Alfronges ficou com ciúmes e retirou-se para fumar mais um cigarro, na varanda que dava para o átrio da escola. Daí, viam-se todas aquelas luzes que iluminavam a cidade, que repousava depois de um dia de azáfama, onde os fumos dos tubos de escape, tinham dado vez aos carros eléctricos que passeavam nas ruas com os respectivos homens que os conduziam e limpavam os dejectos deixados pela multidão de pessoas, que cruzavam as ruas num delírio embriagado de vertigem de tudo querer e nada puderem conseguir, numa correria sem sentido, onde o caminho é palmilhado sem saber bem para onde se quer ir, tendo como um único objectivo, chegar. Nisto, o Albertino dirige-se para a rua. Foi atacado por todos. Queria sair sem pagar. Mas como o Alvino já tivera pago tudo e assim, sem pestanejar, gritei que podia sair, mas não podia levar a minha carteira, pois continha duas notas de apreço da minha chefe e isso não podia ser. Tiramos-lhe os braços e depois deixámo-lo na rua, junto com os cães do Aldino. Os cigarros estavam a acabar e o vinho zurrapa estava no fim. Depois disso, só mesmo barbas de milho e vodka para temperar. Não ia ser bonito e saímos todos em bloco, sem se quer termos combinado. Os movimentos em massa são quase sempre feitos duma forma uníssona, sem preparação, sem se quer haver uma contagem, sem ser preciso olhar, sem pestanejar. O terrível disso é que o movimento é feito em passo acelerado e nunca duma forma ordeira. Tudo que estava na frente, foi e alguns dos artefactos que se encontravam especialmente guardados nas paredes, chão e tecto, foram alguns deles, não todos, alguns, arrastados para vários metros da porta de entrada. Ficámos para ali a rir e a balbuciar postas de pescada e outras coisas que agora não me lembro como se pronunciam. Fizemos as nossas juras e cada um foi para seu lado. Mais um jantar em que não comi nada…

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