quarta-feira, 14 de março de 2007

A minha estrelinha

Vi a estrela que vou casar. Vi-a numa noite de pesar, ou de azar. Vi-a como se não estivesse a ver, como se estivesse cego de tanto ver. Cegou-me e fiquei calado, sem palavra, só a expressão, só a dor de estar a ver. Não senti qualquer tipo de outra sensação, só mesmo o facto de a ver. Sempre acreditei que podia ser algo que me provocaria dor, mas no entanto e porque não sabia o que podia vir do lado esquerdo da cama, tentei saber. Perguntei a uma pessoa que por ali passava. Mas ali ninguém passava. A estrela era a única coisa que por ali passava, ainda para mais num lugar onde não há oxigénio. Sei que pode ser absurdo, mas senti frio. Tapei-me com uma manta verde, cheia de flores lilases. Como eu odeio flores. A bendita estrela continuava a fitar-me, como quem enrola um novelo de lã e torna tudo muito apertado, sem conseguir, ou dar espaço para respirar. Mas era linda, mesmo sendo grande e amarela, não me metia medo, só confusão, pois quando lhe tocava, fazia chorar o meu dedo. Esta dor, que lhe chamo choro, não se consegue suportar, só se consegue sentir, por isso, decidi ignorar. “O sentir é algo que está fora do meu mapa astral” – dizia um velho amigo meu, que ressuscitou a semana passada. Amigo esse que me falou desta situação, quando foi repor os dentes que tinha perdido num combate com um hambúrguer. Não é para rir, é uma história muito triste, o maldito amigo tinha uma saúde de ferro, só que comia merda muitas vezes, não da que sai de dentro de nós, mas sim da que é encontrada dentro de outros seres e é transformada em comida. Bela alcunha, essa de comida. Assim, um dia, um dia, um dia, um dia (anda lá), de Verão, em que os dias são de dia e as noites também, como os outros, sendo esses os mesmos que os do ano passado, comia a sua comida de merda, onde não conhecia os donos. Há uma regra de oiro: não se come onde não se conhece, só onde sabe bem, não sendo o sexo anal um prato que se sirva frio. Sim, porque eu considero os preliminares um assunto demasiado sério. Não adiantando mais e não sendo chato, mesmo que tenha uma grande vontade de o ser, mesmo muito e sei que o seria se continuasse a fugir ao tema por cada coisa que me passa pela cabeça, vou directo ao assunto. O meu amigo, e velho, comeu uma merda daquelas com um osso de baleia lá dentro. Ora não estando à espera, partiu vários dentes. Vários? Sim, porque não acreditou que fosse verdade, continuou a comer e a morder, ainda com mais precisão, tenacidade e por fim força, como que não querendo dar parte fraca. Na realidade, o que ele queria mesmo era que o osso se transformasse em pó e assim pudesse ter a tão afamada erecção, daquelas que fica o pénis duro. Esse meu amigo era astrólogo, ou algo similar, pois não tinha lá muito juízo, mas sabia o que dizia. Por exemplo quando pedia um bife com batatas fritas num restaurante. Já no resto não sei bem, mas eu como amigo e velho, gostava muito dele, levando-o sempre muito a sério. Assim, quando ele me disse tal frase, a que disse dois meses atrás neste texto, senti o que ele sentiu e percebi. Algo de errado estava para acontecer, pois para compreender algo vindo dele seria um em três mil, não só mil, porque era óbvio. Mas… (e porque há sempre um mas, pelo menos para os mimados) a estrela fez-me pensar muito no meu velho amigo e amigo também. O que ela me fazia sentir não se podia dizer que não se sentisse. Fiz uma extrapolação, emendei vários textos que falavam cerca do assunto e voltei para casa, sem antes espreitar o céu. A minha querida lá continuava. Não sabia bem se lhe daria um nome, mas resolvi não dar, ao contrário do que o texto dizia quando o fiz pela primeira vez, sendo esta a primeira. Assim, fui jantar com o meu amigo, o velho. Não comemos merda. Um sopa pela palhinha para ele e uma pata de veado com suco de vespa para mim. Xi! A meio da refeição fui cagar. Ele não gostava nada que eu fizesse isto, pelo simples facto que não gostava de ficar sozinho, por causa da sua natureza ultra violenta com cinzeiros das outras mesas. O psicólogo dele descobriu o porquê deste seu problema, que com o passar dos anos se tornou altamente invulgar. O pai do pai dele, ou seja, portanto, o seu avô paterno da parte do pai, era um lavrador de longa data, quase desde que começou. A sua mãe sempre lhe tinha falado dos fogos postos para vender a madeira que está a apodrecer na mata e do valor rentável dos eucaliptos, ou seria o meu pai? Não sei, mas algo tinham em comum: filho de peixe sabe nadar. Ou seria os olhos? Hum… bem, como não é um tema que leve a história a lado nenhum, resolvi aprofundar, mas não agora. Assim, o seu avô, velho, preocupado com as queimadas e com os fogos, tinha sempre um pau de loureiro a arder dentro de casa, não na lareira, mas sim no meio da sala. O fumo era ensurdecedor. Dai até o facto de alguém fumar lá em casa, eram três tiros de bisnaga cheios de álcool da cerveja. Assim, o psicólogo dele descobriu por meio de coisas que não sei explicar, pois é muito tarde, que o meu velho amigo e também amigo tinha uma fobia tremenda com cinzeiros. Mesmo assim fui cagar. Quando voltei o restaurante tinha saído. Nada do que eu gostava estava lá, aliás, nada estava lá, só o meu amigo jarreta e com meia dúzia cinzeiros na boca. Este problema levou-me a questionar se o problema não seria com o tabaco, mas cedo percebi que não, era mesmo os cinzeiros, fossem eles de que forma fossem, mesmo os que não se parecem com cinzeiros. Não voltando a fugir muito mais ao tema, no jantar relembrei o tema dos nomes fracos a pessoas fortes como por exemplo a minha estrela. Ele quis desde logo tomar um café. Eu não. Tinha que dormir o meu sono de Primavera. Julguei que lhe tinha conseguido fazer ver porque queria tanto dar um nome lindo e brilhante à minha amada. Pensei bem, mas ele não quis saber. Farto de me ouvir, resolveu ir para casa de uma amiga. A amiga era muito gira, mas não era muito coerente, era dos Verdes e tinha um Renault 4. Isso seria o suficiente para não conseguir chegar a um consenso e partir para a contraposição politica. Mesmo assim fui. Bebi água, vinha em baldes de trinta litros. Podia-se tirar duas ou três colheres, não muito mais. A água tinha um cheiro estranho e por isso não bebi muito, pois quando olhei para os pés do pessoal que entrava para as piscinas fez-me náuseas. Vivi uma noite de pranto, estava nublado, a única coisa que me mantinha à tona era o dia seguinte que era passado a dormir e uma leve sensação de que estaria céu limpo. Estava farto das conversar triviais sobre buracos negros, queria algo mais, uma pura e limpa discussão sobre testículos, ou algo similar. Meti mais que uma vez o tema das pétalas verdes, mas não queriam saber, só queriam falar do papa estrelas. Quanto mais falavam mais me dava náuseas. Senti que estavam a fazer de propósito. Passei ao ataque. Gritei duas vezes o nome da estrela: XKU28Y! XKU28Y! – fiquei sem argumentos. Estavam determinados a fazer-me mal e a dizer coisas que não queria ouvir. Sai. Imaginei algo que lhes pudesse causar transtorno. Evoquei vários tipos de Deuses. Um deles chamou-me a atenção. Disse-me que eu deveria pagar a conta do gás. Ignorei-o e fiz-lhe um manguito. Mesmo assim consegui falar com ele e depois, com a minha estrela. Pedi-lhe um favor. Se ela não se importava de passar aqui na casa da amiga gira do meu velho e amigo amigo e dar-lhes uma “flashada”. Ela concedeu-me o desejo.
Agora sou uma pessoa nova, não sinto nada, nem sequer dor, o que me apraz muito, tanto a mim como a todos os habitantes deste planeta.

“Kissing the sun!” – The Young Gods.

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