sexta-feira, 30 de março de 2007

Teoremas

A mentira é algo que não conseguimos comer. Mas com duas pedras de gelo até se bebe.

O orgulho é algo que se sente na pele. Mas quando praticado a dois é melhor ser servido morno.

A paixão é algo que não se vende embalado. Mas com frio tudo é possível.

A energia é algo que consegue vencer o peido. Mas com luvas não dói.

A opinião é algo que vem sempre com batata a murro. Mas também se pode chupar com um pouco de treta.

O susto é algo que não se parte em metades. Mas com uma boa dose de intentona tudo sabe muito pior.

A dor é algo que tem dez lados, todos eles castanhos. Mas quando enervado passa a ser uma bola parabólica.

Conclusão:
Pode-se cozinhar às escondidas, não se deixa é os capotes no meio da sala.

Que confusão no corrimão

Precisamente ser o meu ar de ver que ia querer farto gordo medo tem gritar de encher os pulmões verdes gasta de uma só vez.

Não há maneira de conseguir escrever algo que tenha sentido. Já há dez dias que isto me acontece. Fico fora de mim. A droga acabou à dois dias e andava a aspirinas maradas.

Lá estás tu a desviar a conversa

Mete a tua língua na minha boca. Olha, mas tem cuidado com o meu hálito a vidro fosco.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Eh lá mesmo

Entre veste a gruta funda que desbunda
a masmorra
e a açorda, que a morda
cheia de sal ou mal,
sem ser o que seria,
sem ser a água fria, na pia
branca e grande em chanfre,
ou côncava.
É tua
mas vem nua na rua.
Entre veste sem ser vista a pista,
ou a revista
de pessoas belas, feias,
cheias de veias azuis, ou vermelhas,
as fedelhas,
que têm sempre algo
para dizer,
ou fazer,
sem ser,
sendo sem veneno.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Eh lá não...

No quintal da minha avó havia uma sarjeta, tapei-a.
No prédio da minha irmãzinha, havia uma rameira, comi-a.
No tribunal estava um cão, enxotei-o.
No mar vai um barco à vela, mandei-o capturar.
Em cima do piano está um copo com cenas, quem o viu, ainda bem.
No topo das escadas havia um certo rato roedor, chamei-o.
No meu guarda-fatos tenho dez vestidos, não visto um único.
No restolho da taberna ouvia-se um melro, era lindo, mas não me conhecia.
No meio do pasto havia uma vaca malhada, verde e cor de laranja.
Em cima do piano está uma jarra com medo, quem a entornou, morreu.

terça-feira, 27 de março de 2007

Eh lá!

Sangue no meu prato
Sangue no teu chão
Sangue no fardo
Sangue na mão

Espeta a faca na perna
Espeta o garfo no pé
Espeta a palhinha na abóbora
Espeta o palito no dente

Comida fresca
Comida estragada

Muco no dente
Sarro na unha
Pintelho no pente
Pestana do pulha

Ferida com pus
Ferida com capuz
Ferida com moscas
Ferida com ostras

Comida fresca
Comida estragada

segunda-feira, 26 de março de 2007

Sintoma de Grifen

É com toda a raiva possível e inimaginável, que te digo que te odeio, que te desprezo, que quero que morras, que desapareças, que deixes de existir, que te cales para sempre. Metes-me nojo, enches-me de ódio, de agonia, de tristeza, de angústia. És o ser mais odiável de todos, o som da tua voz, o teu olhar mortiço, o sorriso patético, a forma como andas, a forma como falas, como comes.
O pior é a forma como falas das outras pessoas. És desprezível, agoniante.
Como é possível existires? Como é possível haver alguém como tu?! Como é possível eu te conhecer, como é possível saber que partilhamos o mesmo universo.
Mesmo se não existisses eu sabia que te odeio. Prefiro morrer a respirar o mesmo ar que tu respiras, prefiro cortar os pés a ter que pisar o mesmo planeta que tu pisas.
Eu não só te odeio, como te odeio, não vales nada, não és ninguém. Hipócrita, és uma pessoa nojenta, grosseira, malcriada, peçonhenta, se morreres serei o primeiro a saltar na tua campa.

Amo-te, porque te adoro muito, venero-te, porque és uma pessoa que adoro.
És a única criatura realmente bela no universo. És a única pessoa, és de facto a pessoa, a única, a melhor, a mais que tudo, a que não tem defeitos, que eu tenho o máximo carinho, amor, paixão.
Seres quem és é para mim tudo, é para mim algo que eu queria ter e tenho. Porque és e estás, e serás e viverás assim, aqui perto de mim, onde eu possa ter-te, ver-te, pegar-te, tocar-te. És uma pessoa linda de morrer, toda a tua figura interior e exterior, não tem igual em nenhum outro lugar, mesmo que seja inventado ou ideal, és a pessoa perfeita.
Os teus olhos e a tua boca são como acontecimentos celestiais, como que não existissem, mas existem e estão aqui, ao esticar de um dedo. Quando sinto o teu toque sinto-me a ficar mais bonito, tornas tudo em belo, em invejavelmente agradável.

Tanto dá como deu, és algo que não me aquece nem arrefece, seres ou não seres, estares ou não, existires ou não, é igual para mim. És-me completamente indiferente, se não tivesses nascido, para mim seria igual, mas como já nasceste, continuas a não ser nada. É como não te visse, apesar de estares aqui, ou ali. Às vezes julgo que estás, mas como sei que estás, sei logo que não estás. Não há nada que te torne interessante, que te torne importante, que te torne alguém, nada mesmo.

Quando te amava, sentia que nada podia acabar com esse laço, nada. O dia em que isso aconteceu, passei a odiar-te. Passados alguns dias, deixaste de existir.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Q de Maravilha

Queens Of The Stone Age

Queens Of The Stone Age - go with the flow

Queens of the stone age - Little sister

Queens Of The Stone Age - Lost Art of Keeping A Secret

Queens Of The Stone Age - No one knows

Queens Of The Stone Age - First It Giveth

Queens Of The Stone Age - Monsters In The Parasol

Queens of the Stone Age- In My Head

Queens Of The Stone Age - Avon (Feat. Dave Grohl)

Queens Of The Stone Age - Burn The Witch

Quem quiser que a apanhe

(imprime e lê)

Se achas que podes ser um pássaro, voa, mas não pernoites em casa de pessoas estranhas, não peças para ver o seu interior. Não julgues que podes voar sem ter que te cansar. Se és verdadeiramente forte, faz com que não te veja, faz com que eu não exista. Não podes voltar a ser o que querias, só podes vir a ser o que nada foste, mesmo que se tenham dito ou feito coisas que nos tenham unido para sempre, que nos tenham tornado um só, uma única coisa, um só ser.
Se queres mesmo voar, faz-te à vida, vais ver que não é assim tão difícil, vais ver que não te custa nada. Não insultes a tua própria existência, admite que queres o que não queres, que vais ter o que sempre não quiseste, pois o que querias, não vai ser o que já foi.
A alma de todos esconde o verdadeiro Eu. Neste caso, nada se consegue provar, só mesmo o facto de não se saber o que se passou, mesmo que se tenha sentido, mesmo que se tenha vivido, na pele.
“Gosto de provar, de experimentar, de saber ao que sabe, de entender porque gostei, mesmo que depois não coma o resto, por achar que me vai fazer mal, ou pura e simplesmente porque não gostei.”
Toda a história do que se sabe quando se tocam duas pessoas parece-me muito verosímil. Só porque se sente e sabe ao que sabe.
Não deixa de ser um monte de balelas quando as coisas não correm bem.
Mas por outro lado quando correm bem, não se pensa em coisas ruins, em coisas nefastas, que fazem mal, que transformam um belo ser, num ser mesmo muito feio, ou como é politicamente correcto dizer: Menos belo.
É tão bom quando se está junto, perto, a saborear os momentos, ou até mesmo o momento, o que nos passa pela cabeça.
O que nos faz viver são só os instintos de nascença, são só os que não conhecemos e mesmo esses temos medo que deixem de funcionar, pois o momento é tão bom que corremos esse perigo de o não conseguir gozar até ao fim.
Pára, o tempo pára.
Sei que nada existe, sei que nada pode ser, sei que o que foi, é, ou foi, mas porquê as frases na minha cabeça?
Apagar é algo que não sei fazer. Quando li o que escrevi, ri, e achei triste, mas ao mesmo tempo divertido e muito bonito, sem muito sentido mas lindo.
Sabes, eu vou continuar.

A mão na perna
O olho do olho
Lábios quentes tocam-se, retocam-se
Misturam-se, cobrem-se de desejo, ardente, quente e cheio de sede.

A mão no cabelo
A face na face
A corpo que sente com a passagem do outro corpo
Fundem-se em fuga, em tentativa de ser um só.

A mão nas costas
O peito nos peitos
As tuas coxas sentam nas minhas, húmidas sensações de arrepio
A palavra surda, que é dita sem cuidado, que é sentida em furor.

A mão na boca
As mãos nas mãos
O silêncio nocturno que invade os sentidos, e os torna surdos
Mas ao mesmo tempo gritam: Pára!

Doce mel.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Miséria, fui enrabado.

No primeiro dia que lá fui pensei que não podia ficar muito mais tempo, sabendo os riscos que corria, mas a curiosidade, misturada com a forma como me olhavam, fez-me ser desejado. Sei que não sou, mas também não sei como não serei, por isso vou ter que falar com alguém.
Pareceu-me uma pessoa com que se pudesse ter uma conversa decente, pela forma como segurava no copo, pela forma como se vestia, mas o que pesou mais foi a forma como olhava. Aproximei-me, não sabia muito bem o que fazer, como iniciaria a conversa. A maior experiência da outra pessoa resolveu o problema. Mal me aproximei, perguntou se era a primeira vez que ali ia, ao que respondi que sim. Perguntou se eu não bebia nada. De facto desde que tinha entrado que não me apetecia beber nada, o estado de nervosismo era tal, que nem dei conta desse pormenor. Pensei em pedir uma cerveja, mas depois pedi um Cuba Livre. Quando voltei com a bebida já estava mais tranquilo. Sentei-me e comecei a conversar, de coisas banais, mas na minha cabeça estava sempre a mesma pergunta, sempre, em repetição, já estava a dar em louco. Era pior quando estava calado, só me dava vontade de interromper a conversa e perguntar: dói?
Saímos, e fomos para outro bar, mais acima, com menos confusão, o que torna a coisa mais íntima, deve ser um truque. Eu percebi que aquilo podia ir para outros caminhos, mas não me preocupei, a conversa estava aceitável e até então não tinha havido qualquer tipo de assédio, julguei até se não estaria interessado. A maldita pergunta voltava de quando em vez. Ganhei forças e perguntei. Após um minuto de algum silêncio: dói? A princípio não compreendeu qual era a questão. Depois de um breve e incomodativo silêncio, bem como uma troca de olhares, percebeu. Deu um pequeno sorriso e respondeu que não sabia. Gelei! Tinha feito asneira. Eu achei estranho o facto de não haver ninguém a acompanhar, mas… Não dei parte fraca, aprofundei a conversa. Perguntei se quando há o acto se há gemidos de dor, ou algo do género, ao que respondeu que não sabia, teria que ver como era para saber e sorria. Ai fiquei um pouco chateado, mas não demonstrei muito. Deu uma grande gargalhada. Fiquei sem saber o que fazer, não gostei. Perguntei a que se devia tal excitação. Parou, olhou-me nos olhos e desabafou. Confessava que era também a primeira vez que o iria fazer, se é que algum dia o faria. Senti que seria este o dia, tanto esta pessoa como eu tínhamos o que se chama, curiosidade animal. Estava já um pouco ansioso, sugeri que fossemos a um lugar mais íntimo. Não querendo ir para minha casa, fomos para a de uma amiga que estava fora, a qual tenho a chaves de casa, para tratar dos gatos e do periquito. Não demorou muito tempo. Estávamos despidos em 2 minutos. O mais estranho estaria para acontecer. Não nos tocávamos, não havia carinhos, ou aconchegos, só a ansiedade de querer experimentar a dor. Busquei o boião, ainda estava selado. Depois houve a grande questão, quem irá primeiro sentir? Fizemos à sorte, com um dado do Monopólio. Quem tivesse o número mais alto seria o primeiro a sentir. Calhou-me a mim. De repente perdi toda a coragem, mas como sou uma pessoa de palavra, aguentei. Agora era a vez dele. Não estava bem, o seu sexo não estava pronto. Desconfiei que não gostasse. Pediu-me carícias. Disse prontamente que não. Se até aquele ponto não o tinha feito, não seria agora que o iria fazer. Olhou-me com desconfiança, e lá começou-se a auto acariciar, até ter o seu sexo todo em forma. Colocou o gel e de imediato começou. Claro que doeu. Apertei tudo com o máximo da força e arranquei-lhe o sexo. Foi um bocado chato, mas soube bem, foi assim como que se estivesse a evacuar.
No hospital lá lhe conseguiram colocar o sexo de novo. Tentou-me processar, mas não conseguiu, pois eu também apresentei queixa.
Senti-me miserável. Tinha sido enrabado. Contra factos não havia argumentos. Mas que mania que temos de ser racionais.
Eu não gosto de merda e não é por isso que vou provar.
Que miséria…

sexta-feira, 16 de março de 2007

De cernelha

A Nicia estava velha e não se encontrava muito bem-disposta, achava-se dona de uma integridade fora do comum. Era teimosa e dura, cheia de boa vontade. Senti que ela me queria comer. Pensei que se assim fosse teria de ter preservativos rotos. Era a única mulher que queria ver prenha. Tinha mesmo o corpo de alguém que quando prenha seria bom sodomizar. A sua integridade chocava com a minha falta de senso, sendo mesmo factor decisivo para uma boa relação, não duradoira, mas sim de sexo parvo. Por um dia ou dois mantive a calma e controlei a falta que tinha. É algo que se faz quando se quer caçar alguém. Chegámos mesmo a ter conversas decentes. Aliás, achei que poderia ser assim para o resto da vida, mas quando chegava a casa, partia tudo com a fúria de estar a ser algo que não era.
Este processo estava a tornar-se muito dispendioso.
Sabia que ela estava na fase fértil, convidei-a para jantar no restaurante do meu tio, o qual era bastante do seu agrado, pois era bastante simétrico. Comemos e bebemos ainda mais. Falámos de tudo o quanto fosse trivial e íntegro, como por exemplo separar o lixo por cores. Ela estava lava de suor. Paguei, ela pagou e saímos. O próximo passo era fulcral. Mal a imaginei de quatro no chão da minha cozinha a lava-lo, ejaculei. Ela não notou. Perguntei onde ela queria ir, não me deu tempo de dizer mais nada:
- Para a casa da minha tia.
Fiquei de tal forma que nem consegui saber que rádio queria ouvir e isso era fundamental para ela. Julguei que não ia conseguir manter o cenário por muito mais tempo, mas contive-me. A casa de sua da tia era algo que não consegui suportar, mesmo que implicasse ficar sem ela na minha cozinha. O cheiro apoderava-se de mim, julguei que iria desmaiar, ou mesmo ficar com ataques de perca de senso, mas o papo dela e a imagem dela prenha, fizeram milagres.
Todos os esforços serão recompensados.
A escada muito antiga era feita toda ela de madeira que rangia mais como um asno com o cio. A porta de entrada era tão grande como branca, tão imponente como espartana. Tão bonita como sem gosto. Ai! O maldito cheiro que já se sente aqui fora… Pensei de novo em coisas boas e como ela deixaria o chão da cozinha limpo quando estiver assim, prenha e nua.
Entrei.
Duas horas foram as que consegui aguentar, não mais, bastou. Tanto o tapete como os sofás ficaram irreconhecíveis. O meu vómito é de uma tal acidez e cor que nada nem ninguém conseguia afasta-lo. A tia do alto do seu metro e noventa, quando anda de espartilho, implorou que ficasse mais tempo, pois o cão dela estava a precisar de se purgar e assim podia aproveitar o resto da bílis que ainda tinha. Sem nem mais uma palavra, ejaculei e saí. Mais uma vez ninguém notou que saí.
Em casa, ela conseguia falar comigo, eu sentia que ela estava a comunicar, no entanto não conseguia entender se estava a falar pela boca ou pelos sovacos. Mandei-a calar e baixou os braços, ao que conclui que seria algum truque para me baralhar, para achar que a tia era uma pessoa séria e muito asseada. Séria não seria, bem como asseada. Bem, vendo bem… até que era, mas não sabia como encontrar algum tipo de paralelismo e desatei a assobiar a marcha nupcial. Descobri algo que nunca esquecerei. Esta marcha, e assobiada por mim, ou seja, muito mal tocada, fazia crescer pelos na nuca da minha querida Nicia, e assim, fazia com que os arrepiasse, e em simultâneo tornasse os bicos dos seios o mais túmidos possível, bem como vermelhos. Isso era notório quando estava de camisa, a qual estava já despida. Não parei. Cada vez mais alto, até que tocaram à campainha. Era a vizinha a reclamar o barulho. Convidei-a a entrar, mas não quis, aliás, desancou-me por estar a traí-la. Uma mão no meio das suas pernas durante vários segundos acalmou-a. Fechei a porta, mas sem antes cuspir para a mão e dar-lhe um aperto de mão.
A Nicia era e é, bem à maneira.
Adoro o seu corpo, como já referi. Achei que seria importante falar-lhe dos problemas do corpo quando dilatado. Não se fez de rogada e meteu o meu pénis muito duro na sua boca. Não percebi se estava a acompanhar o que lhe estava a dizer, ou pelo menos a fazer um esforço para me compreender. Ejaculei.
Se o dia tivesse mais horas seria um disparate.
Deite-me com ela, foi tão bom que não me lembro. Fizemos amor, fodemos, comia-a, comeu-me, penetrei-a, meti vários dedos e fui-lhe ao cu.
Mas, e porque há sempre um mas, o que mais me chateou, o que mais me marcou, foi a bem falada e experimentada, cernelha. A posição não é nada de mais, é igual ao que se faz a um toiro, só que ali é ao contrário, o que dá um gozo tremendo e quem sugeriu foi ela. Fiquei espantado! A sério, juro por tudo o que há mais de sagrado e não falo de Deus. É a minha posição mais apetecível. A princípio fiquei apreensivo, não sabendo se ela estava a falar da mesma coisa, mas quando me pega e faz o movimento, já está! Vou dar uma de cernelha!
Esta posição porque estrangula aquele nervo, faz com que se tenha a erecção da vida, da minha e da vossa, pois é tão grande que se fica com a dos outros. Bem como a ejaculação, que é de tal forma adiada que todos os músculos do corpo imploram que não aconteça e que perdure, que assim fique por horas, tal como acontece. Parece ser algo que não se tem todos os dias, mas quem experimenta, até o pode fazer sozinho, basta ter um urso de peluche. Mais e mais, dentro e fora, sempre sem parar.
Os gritos e os gemidos emitidos por ela por vezes não se ouviam, estavam abafados pelos meus dedos na sua garganta, mas quando os retirava, ouviam-se a horas de distância.
Só mais uma.
Sem que eu pudesse dizer, água vai, pegou nos meus testículos e apertou quando ejaculei. Ai soube o que se passava. Ela queria lavar a minha cozinha e estar prenha.
Morri.

quarta-feira, 14 de março de 2007

A minha estrelinha

Vi a estrela que vou casar. Vi-a numa noite de pesar, ou de azar. Vi-a como se não estivesse a ver, como se estivesse cego de tanto ver. Cegou-me e fiquei calado, sem palavra, só a expressão, só a dor de estar a ver. Não senti qualquer tipo de outra sensação, só mesmo o facto de a ver. Sempre acreditei que podia ser algo que me provocaria dor, mas no entanto e porque não sabia o que podia vir do lado esquerdo da cama, tentei saber. Perguntei a uma pessoa que por ali passava. Mas ali ninguém passava. A estrela era a única coisa que por ali passava, ainda para mais num lugar onde não há oxigénio. Sei que pode ser absurdo, mas senti frio. Tapei-me com uma manta verde, cheia de flores lilases. Como eu odeio flores. A bendita estrela continuava a fitar-me, como quem enrola um novelo de lã e torna tudo muito apertado, sem conseguir, ou dar espaço para respirar. Mas era linda, mesmo sendo grande e amarela, não me metia medo, só confusão, pois quando lhe tocava, fazia chorar o meu dedo. Esta dor, que lhe chamo choro, não se consegue suportar, só se consegue sentir, por isso, decidi ignorar. “O sentir é algo que está fora do meu mapa astral” – dizia um velho amigo meu, que ressuscitou a semana passada. Amigo esse que me falou desta situação, quando foi repor os dentes que tinha perdido num combate com um hambúrguer. Não é para rir, é uma história muito triste, o maldito amigo tinha uma saúde de ferro, só que comia merda muitas vezes, não da que sai de dentro de nós, mas sim da que é encontrada dentro de outros seres e é transformada em comida. Bela alcunha, essa de comida. Assim, um dia, um dia, um dia, um dia (anda lá), de Verão, em que os dias são de dia e as noites também, como os outros, sendo esses os mesmos que os do ano passado, comia a sua comida de merda, onde não conhecia os donos. Há uma regra de oiro: não se come onde não se conhece, só onde sabe bem, não sendo o sexo anal um prato que se sirva frio. Sim, porque eu considero os preliminares um assunto demasiado sério. Não adiantando mais e não sendo chato, mesmo que tenha uma grande vontade de o ser, mesmo muito e sei que o seria se continuasse a fugir ao tema por cada coisa que me passa pela cabeça, vou directo ao assunto. O meu amigo, e velho, comeu uma merda daquelas com um osso de baleia lá dentro. Ora não estando à espera, partiu vários dentes. Vários? Sim, porque não acreditou que fosse verdade, continuou a comer e a morder, ainda com mais precisão, tenacidade e por fim força, como que não querendo dar parte fraca. Na realidade, o que ele queria mesmo era que o osso se transformasse em pó e assim pudesse ter a tão afamada erecção, daquelas que fica o pénis duro. Esse meu amigo era astrólogo, ou algo similar, pois não tinha lá muito juízo, mas sabia o que dizia. Por exemplo quando pedia um bife com batatas fritas num restaurante. Já no resto não sei bem, mas eu como amigo e velho, gostava muito dele, levando-o sempre muito a sério. Assim, quando ele me disse tal frase, a que disse dois meses atrás neste texto, senti o que ele sentiu e percebi. Algo de errado estava para acontecer, pois para compreender algo vindo dele seria um em três mil, não só mil, porque era óbvio. Mas… (e porque há sempre um mas, pelo menos para os mimados) a estrela fez-me pensar muito no meu velho amigo e amigo também. O que ela me fazia sentir não se podia dizer que não se sentisse. Fiz uma extrapolação, emendei vários textos que falavam cerca do assunto e voltei para casa, sem antes espreitar o céu. A minha querida lá continuava. Não sabia bem se lhe daria um nome, mas resolvi não dar, ao contrário do que o texto dizia quando o fiz pela primeira vez, sendo esta a primeira. Assim, fui jantar com o meu amigo, o velho. Não comemos merda. Um sopa pela palhinha para ele e uma pata de veado com suco de vespa para mim. Xi! A meio da refeição fui cagar. Ele não gostava nada que eu fizesse isto, pelo simples facto que não gostava de ficar sozinho, por causa da sua natureza ultra violenta com cinzeiros das outras mesas. O psicólogo dele descobriu o porquê deste seu problema, que com o passar dos anos se tornou altamente invulgar. O pai do pai dele, ou seja, portanto, o seu avô paterno da parte do pai, era um lavrador de longa data, quase desde que começou. A sua mãe sempre lhe tinha falado dos fogos postos para vender a madeira que está a apodrecer na mata e do valor rentável dos eucaliptos, ou seria o meu pai? Não sei, mas algo tinham em comum: filho de peixe sabe nadar. Ou seria os olhos? Hum… bem, como não é um tema que leve a história a lado nenhum, resolvi aprofundar, mas não agora. Assim, o seu avô, velho, preocupado com as queimadas e com os fogos, tinha sempre um pau de loureiro a arder dentro de casa, não na lareira, mas sim no meio da sala. O fumo era ensurdecedor. Dai até o facto de alguém fumar lá em casa, eram três tiros de bisnaga cheios de álcool da cerveja. Assim, o psicólogo dele descobriu por meio de coisas que não sei explicar, pois é muito tarde, que o meu velho amigo e também amigo tinha uma fobia tremenda com cinzeiros. Mesmo assim fui cagar. Quando voltei o restaurante tinha saído. Nada do que eu gostava estava lá, aliás, nada estava lá, só o meu amigo jarreta e com meia dúzia cinzeiros na boca. Este problema levou-me a questionar se o problema não seria com o tabaco, mas cedo percebi que não, era mesmo os cinzeiros, fossem eles de que forma fossem, mesmo os que não se parecem com cinzeiros. Não voltando a fugir muito mais ao tema, no jantar relembrei o tema dos nomes fracos a pessoas fortes como por exemplo a minha estrela. Ele quis desde logo tomar um café. Eu não. Tinha que dormir o meu sono de Primavera. Julguei que lhe tinha conseguido fazer ver porque queria tanto dar um nome lindo e brilhante à minha amada. Pensei bem, mas ele não quis saber. Farto de me ouvir, resolveu ir para casa de uma amiga. A amiga era muito gira, mas não era muito coerente, era dos Verdes e tinha um Renault 4. Isso seria o suficiente para não conseguir chegar a um consenso e partir para a contraposição politica. Mesmo assim fui. Bebi água, vinha em baldes de trinta litros. Podia-se tirar duas ou três colheres, não muito mais. A água tinha um cheiro estranho e por isso não bebi muito, pois quando olhei para os pés do pessoal que entrava para as piscinas fez-me náuseas. Vivi uma noite de pranto, estava nublado, a única coisa que me mantinha à tona era o dia seguinte que era passado a dormir e uma leve sensação de que estaria céu limpo. Estava farto das conversar triviais sobre buracos negros, queria algo mais, uma pura e limpa discussão sobre testículos, ou algo similar. Meti mais que uma vez o tema das pétalas verdes, mas não queriam saber, só queriam falar do papa estrelas. Quanto mais falavam mais me dava náuseas. Senti que estavam a fazer de propósito. Passei ao ataque. Gritei duas vezes o nome da estrela: XKU28Y! XKU28Y! – fiquei sem argumentos. Estavam determinados a fazer-me mal e a dizer coisas que não queria ouvir. Sai. Imaginei algo que lhes pudesse causar transtorno. Evoquei vários tipos de Deuses. Um deles chamou-me a atenção. Disse-me que eu deveria pagar a conta do gás. Ignorei-o e fiz-lhe um manguito. Mesmo assim consegui falar com ele e depois, com a minha estrela. Pedi-lhe um favor. Se ela não se importava de passar aqui na casa da amiga gira do meu velho e amigo amigo e dar-lhes uma “flashada”. Ela concedeu-me o desejo.
Agora sou uma pessoa nova, não sinto nada, nem sequer dor, o que me apraz muito, tanto a mim como a todos os habitantes deste planeta.

“Kissing the sun!” – The Young Gods.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Será... ou será? Ou ainda, será! Será?

Se te toco com força pensas que te vou querer,
se te toco devagar julgas que vou saber,
suspeito que serás,
suspeito que não me amarás,
creio em ti,
creio em mim,
o amor faz milagres,
Deus acompanha se me amares,
Tu és a minha rosa,
Eu sou o teu Espinosa.

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Soldado solitário, perdido na noite, procura consolo num abrigo, numa trincheira, acolhedora, mesmo que seja húmida, mesmo molhada, necessita tanto, quer tanto repousar. Continua, continua, sem rumo, caminha sem destino, não encontra, procura desesperadamente, a sua mente confusa encontra situações tenebrosas passadas, os olhos cansados, fitam o infinito, o cansaço dá lugar à paranóia, à sensação de ter perdido tudo, abandona o corpo e continua. Tudo quando trás, ou teve, vai deixando ao Deus dará, nada interessa, despede-se da última peça de roupa, do último aconchego, corre, corre em fúria, em dor, serra os dentes e corre. Cansado, continua, não pára, sente o coração a despedaçar-se, a rebentar, esforça ainda mais, o sangue fervilha-lhe nas entranhas, esguicha pelos dedos, sai-lhe pelos olhos, chora e chora, mais sangue e mais! Um último grito e consegue chegar-lhe!
Repousa em paz nos braços dela…

Será?

Mista a vista que avista
os meus olhos
profundos de serem
fundos e imundos,
por não serem puros
suficiente para puderem, te,
mirar, olhar, vislumbrar, amar, criar,
sem que possam tirar
bocado, amado, virado,
fico estupefacto, com o acto.
Choro…

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Enervo-me de te cheirar
Transpiro de te ver
Grito de te amar
Estremeço de te ler

Entra, fica

Suspiro de te tocar
Evaporo-me de te temer
Fujo de te cantar
Morro de te querer

Entra, fica

sexta-feira, 9 de março de 2007

Tempestade de mar

Tempestade de mar, vermelho, encarnado, quente, nada suave, que tranquiliza a alma forte cheia de mágoa, de alegria escondida pelo entardecer frio, que aquece o meu coração, cheio de esperança, vã, ou não.

Em celebração do Amor

Semente que se sente quente de repente como a mente que vem rente e não mente.

Atado o mato alto e matado como o prato chato e com o sapo mato o fato de facto.

Cepa de verga erga a negra greta com a sineta violeta

Um dia encontrei uma pessoa tão triste que quando lhe perguntei se era triste, sorriu.

Faz de conta que sei do que estou a falar, mas depois calo-me, para ver se o eco diz asneiras. Assim terei muito mais prazer em corrigir um imbecil.

Sinto que me estou a consumir, mas não sinto calor, será que paguei a conta do gás?

Vem encher este pote com a tua sabedoria e vaza toda a tua barriga, cheia de gases. Hum! Que bom é o teu cheiro nojento!

Xícara de chá má trás cá a pá e vem com o António Sá, mas vem sozinha, com a vizinha e a criancinha, maneirinha. Afinal não vem só… bolas!

Sebe de verdes folhas, duras que nem cornos e verdes que nem as folhas. Já é segunda vez que me aleijo!

Faço votos de castidade por 20 Euros.

Enfio o meu dedo no teu ouvido, encho-me de ti e retiro. Constato que não está limpo, o dedo, é certo. Já o outro, estava, mas não o meti lá, por isso.

Entra uma vez e logo vez. Não sabes de que cor é? É vermelho, é claro que é encarnado.

quinta-feira, 8 de março de 2007

quarta-feira, 7 de março de 2007

Outro dia dizia-me um Sr:

"Ainda ouves Punk??? Isso é para putos...!" - Ao que lhe respondi - "E tu o que ouves?" - e ele muito convencido - "Ben Arper!!!" - e eu - "pois... mas tu só és da minha idade... Tens algum problema?"

NOFX

Nofx
nofx-Leave It Alone

Nofx - Hobofobic

Franco Unamerican- NOFX

NOFX - BOB

terça-feira, 6 de março de 2007

A viagem

Faço viagens todos os dias, mas nada se compara ao que sempre quis fazer e consegui fazer.
Não sabia com o que podia contar, não estava de qualquer forma realmente preocupado, pois o que conta é a forma como fui. Desta vez sem ter que pensar muito e seguindo um antigo desejo, pensei em ir de patins. Quis ser o mais tradicional possível e utilizar patins tradicionais e não os recentes patins em linha. Fazia mais sentido, não só porque acredito mais nas coisas tradicionais, como também o desafio foi muito maior, não só isso como é bem mais estranho e difícil.
Fiz a mala para dois dias, tinha que evitar o excesso de peso. Consoante vou chegando aos locais onde pernoito, lavo e seco a roupa do dia, utilizando assim a outra muda de roupa para não ser sempre a mesma. Escolhi roupa resistente e com reforços nos locais mais utilizados.
Tinha alguns sítios que queria passar, mas tinha sempre um segundo plano, pois não podia prever tudo, algo poderia correr muito mal, problemas físicos, técnicos ou até mesmo climatéricos. Assim, em todas as localidades mais importantes, identifiquei um hotel, estalagem, pousadas, pensão, ou aluguer de quartos, para qualquer emergência. O destino e estes planos eram de facto as únicas coisas que tinha planeado, tudo o resto seria aventura, sem nada planeado, pelo menos a viagem grande.
Já a pequena, tinha meses de preparação. Todos me diziam que teria de ter um plano. Mas que sabiam eles do plano? Não era eles que iam nesta aventura! Bem que alguns queriam, mas não tiveram a coragem. No entanto eu tinha um plano, um objectivo, algo que me movia, queria arranjar uma forma barata de viajar e fugir.
Já era tarde, fiz a mala, verifiquei tudo, voltei a verificar e deitei-me. A excitação da viagem tirava-me o sono. Para chamar o sono, comecei a rever o caminho, mal passei o primeiro quarteirão, adormeci.
Acordei, não me conseguia levantar, algo estava terrivelmente errado. Não sentia as pernas, tentava movimenta-las mas não obedeciam, não as conseguia mover. O terror invadia os meus pensamentos, tudo o que tinha pensado, arquitectado, sonhado, estava a ir por água abaixo. Fiquei em pânico, gritei, mas nem isso conseguia fazer. O terror deu lugar ao desespero, perdia as forças, depois deixei de conseguir mover os braços, o tronco e por fim a cabeça, parecia que tudo em mim estava paralisado, adormecido, preso, aprisionado, congelado, petrificado. O terror e o desespero, fizeram com que lágrimas grossas escorressem pela face. Por fim a estucada final, não sentia frio, nem calor, nada. Pensei que a morte me tinha vindo visitar, e que não era assim tão mau, pois não estava a sofrer, pelo menos dor física, já a mente, essa sim, estava muito afectada e em dor. Não me resignei! Fiz um último esforço, bem grande e forte. Tentei pestanejar. Concentrei toda a minha força e mais alguma que viesse de fora, mesmo num esforço sobre-humano e consegui abrir o olho direito, só um pouco, o suficiente para ver luz. Bolas! Estou atrasado, já é de dia! Estava a sonhar…
Levantei-me e dirigi-me rapidamente para o banho. No banho lembrei-me do pesadelo. O que a ansiedade me fizera, ou seria um mau agoiro? Tinha dormido cerca de 4 horas e isso não era muito bom, mas como tinha descansado bastante nas últimas 3 semanas, apesar da preparação física, não era assim tão mau e por outro lado mantinha-me mais atento, mais vivo. Vesti tudo com rigor de um cirurgião, voltei a verificar tudo, rezei um pouco e saí.
O elevador estava fora de serviço, desci pelas escadas, tarefa árdua, mas naquele dia parecia tudo bem mais fácil e desci como nunca, rápido, exacto, mas sempre com o sentido que algo de errado estava para acontecer. Pensando assim, consegui chegar ao patamar do prédio num tempo recorde. Mantinha comigo um pequeno livro de apontamentos e um lápis, pois não confio em canetas, só para assinar documentos. Marcava todos os passos importantes, e este era um deles. Arrumei o bloco, o lápis, inspirei fundo, abri a porta da rua e a luz de mil holofotes incidiram sobre mim. Corri o mais de pude, ninguém me iria apanhar. As balas voavam à minha frente as sirenes soavam num tom quase hipnótico, a minha primeira meta é a esquina do prédio. Ai, duas centenas de patinadores estarão à minha espera e confundirão todos, mesmo eu ficarei confuso e não saberei se estarei a fugir ou a perseguir alguém. Todos de igual. A última bala, mesmo a última, resvala na parede e faz ricochete, atinge, em cheio, mesmo no alvo, mesmo no meio, com uma pontaria certeira, de um atirador experiente, o pneu de um carro das autoridades e falhando a minha perna. Dobro a esquina, toda a minha face estava iluminada de alegria, estavam lá todos e em posição. Nem foi necessário dar ordem, todos seguiram o seu caminho. E eu o meu. Nada nem ninguém sabia o caminho um do outro, pois todos tinham escolhido à sorte caminhos diferentes. O meu tinha sido o primeiro. Dali até ao meu ponto de fuga teria ainda muito que percorrer. Sempre pensei que seria apanhado, mas por outro lado achei sempre que não há forma de o fazer, pois estarei sempre muitas vezes à frente do que poderá acontecer. Visto de cima por helicóptero era uma imagem linda de se ver, a forma como todos os patinadores seguiam o seu caminho e como alguns eram interceptados pelas autoridades, não sabendo muito bem o que lhes podiam fazer, senão libertá-los, pois não havia uma descrição muito fidedigna do criminoso, que por grande acaso, poderia ser eu, não sendo assim das melhores.
Segui os meus 4 líderes de fuga, que eram 5, mas um já tinha sido apanhado pelas autoridades, como previsto. Consegui chegar ao ponto de separação em menos tempo do que estava no plano, contando já com o possível atraso. Isso não era muito bom, pois ficaria à espera do autocarro que me levaria para fora da cidade. Os minutos seguintes serão cruciais para o resto da viajem e por isso mesmo vou contar uma pequena história:
Tinha um pequeno Hamester. Era o meu ratinho favorito, o meu mais que tudo, visto que nada nem ninguém me ligava nenhuma. Era uma família muito grande, quase enorme, mais um menos um, seria mesmo igual. Uma vez passei dois dias em casa de um amigo, ninguém deu por isso, só deram conta porque eu fui desleixado e deixei passar a vez de deitar o lixo na rua. Mas não importa. O pequeno rato era…
Chegou o autocarro. Agarrei-o com toda a força e zarpei. Já no horizonte da avenida vinha um carro das autoridades, por sorte não me vira. Não podia acontecer com tanta frequência. Tinha apenas 3 situações de desencontro, ou situações aflitivas até ao final da viagem e ainda ia no início, não era muito bom. Em campo aberto tudo seria diferente.
Cruzei-me com mais 6 patinadores agarrados a autocarros e mais uns tantos na rua, e com as autoridades sem saber muito bem o que fazer. Estava decretado o caos. Tal como se previra, tudo quanto fosse patinador teria que ser detido. Mas… não contavam o que estaria para acontecer. A ganância dos agentes de informação, tinha surtido o efeito desejado. Depressa se soube da grande fuga, fazendo também com que todos os quanto gostam, adoram e são aficionados da patinagem, quer seja, tradicional, ou em linha, os trouxessem para as ruas. Se antes o caos era grande, neste momento eram milhares os que patinavam pelas ruas da cidade, fazendo com que tudo parasse. Não havia forma de os travar. Tudo se dizia, tudo de especulava, mas nada nem ninguém imaginava o que realmente estava em jogo. Apenas 3 pessoas sabiam.
Estava já fora da cidade. E outros tantos como eu, também se deslocavam noutros sentidos. Era um dos pontos fulcrais. O dia já ia longo e continuava com um sorriso louco na cara, depois de ter apanhado tanta boleia de outros tantos camiões e veículos de grande porte, tinha que parar por um pouco.
A quantidade de pessoas que acompanhava a louca viagem era imensa e já nem mesmo as autoridades sabiam como lidar com a situação. Planos de emergência, planos de captura, todo o tipo de planos e nada surtia efeito. Não é que fosse difícil encontrar patinadores, mas o difícil era apanha-los, ou mesmo interroga-los, pois nada diziam e por mais que parassem pessoas de patins, seria um em mil a hipótese de encontrar o fugitivo.
Quando me apeava tirava tudo o que fosse equipamento de viagem, pois queria estar descansado. Assim, antes de entrar em qualquer lugar para comer ou para pernoitar, encontrando sempre um local escondido, retirava a roupa de viagem e ficava só com o que se pode considerar necessário para parecer um comum transeunte. Jantei e depois subi de imediato para o meu quarto, estava cansado e ainda tinha que fazer o jornal da viagem.
Acordei bastante cedo, ainda o sol não raiava, mas pouco faltava. Preparei-me no mesmo local onde no dia anterior me tinha despido e retornei à viagem. Sabia exactamente para onde queria ir, antes de deitar tinha já traçado a minha rota. O sorriso teimava em não abandonar o meu rosto, pois até agora tinha tudo corrido como planeado, até mesmo o estar a ser seguido. Pensando sempre que todos os patinadores fazem o seu caminho sempre de patins, quem quer que fosse que me seguia não contava que eu me poderia deslocar de outra forma. Para jogar pelo seguro, deixei-me ser seguido mais um dia e depois faria a fuga.
Não resisti e em vez de um, foram dois dias, o meu perseguidor mal podia com as pernas. É o que faz não ter preparação. Quando menos esperava, retirei os patins, abri a porta do carro que estava mais próximo e pus-me em fuga.
Nem eu estava à espera de tal desilusão. Era demasiado imprevisto para ser óbvio. Tudo o que tinha batalhado até então, estava a ser posto de parte, o facto de fazer a viagem de patins era o objectivo primordial, mas no entanto havia outras coisas que me perturbavam a mente. O facto de meio mundo andar de patins, tirava o verdadeiro sentido à viagem. O verdadeiro sentido da fuga não era os patins, mas sim a forma como o fizera e isso tudo tinha sido subvertido. Tal como noutras ocasiões, em que nada nem ninguém esperava, eu fi-lo. Como será óbvio referir, andar de carro é bem mais fácil de ser interceptado, logo teria que me livrar de tal estúpido meio de transporte.
Após cerca de 25 quilómetros, abandonei o carro numa ravina e segui a pé, até encontrar um burro abandonado. Depois, para despistar, encontrei no meio do campo um triciclo. Este foi por ventura o maior erro da minha viagem. Ninguém com a minha idade anda de triciclo… e assim fui identificado como sendo um fugitivo “dos patins”. Cedo me consegui libertar e voltar à estrada. Tinha comprado um bigode falso e uns óculos sem lentes. O disfarce não era dos melhores, todos me confundiam com o Dr. Maravilha. Esta fase da viagem foi das mais irrelevantes. Tudo o que fazia ou escolhia, dava sempre problema.
Parei e pensei no assunto.
Nada de grave, apenas dois dias. Entendi o recado, os patins eram a solução. Com grande nostalgia, calcei-os, as lágrimas frias, escorriam-me pela face. Quando me pus de pé, sorri por dentro e chorei por fora. Segui…
Passados dois anos e meio, e vários pares de patins, o lugar onde queria chegar, estava fechado e nunca mais abriria. Envolto num triste sentimento de remorso, e dádiva de várias coisas a pessoas que não as apreciam, jurei: não vou deixar nunca mais uma prova da minha existência, em qualquer lado que passe, relativo à minha passagem por onde quer de seja.
Assim fiz. Deixei o local e retirei as impressões digitais, bem como tomei a pílula que torna o ADN estéril. Rumei a casa dos meus tios, algures no sítio mais longe do planeta terra.

É daí que escrevo estas palavras. Muito mais haveria para dizer, como por exemplo o detective que vasculhou o meu apartamento de origem e descobriu todas as minhas cartas para a mulher do Mário Soares. Uma vergonha.

Acabei a viagem e estou feliz.

PS: Não sei da minha carteira.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Tretas

Penso que penso no que penso.
É algo que devo pensar mesmo que não pense no que devia pensar. Pensar é algo que faço sem pensar, penso sempre que estou a pensar sem me lembrar de estar a pensar de propósito. Se pensar com efectividade, será um pensar forçado, logo mais pensado, mas no entanto não se deve pensar que é superior ao anterior pensar. O pensar sem pensar que se está a pensar, é tido como não sendo um pensar pensado, mas sim irreflectido, logo menos valorizado, mas de facto é tão ou mais do que o pensar que se está a pensar, pois funciona sempre. Já o que é feito de propósito, é só feito quando se quer, não tendo em conta que já há um pensar, pensar esse nobre, pois trata-se do senso comum, que nos faz estar vivos.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Alegra-te alma clara

Fugi, abandonei todo e qualquer pretexto para ser feliz. A felicidade passou a ser um termo gasto, fora de tom, cheio de saudade, com muita mágoa, proferido sem sentido, nos dias tristes e longos que enfrento. Sendo o fim da alegria, transporto uma longa arca cheia de lembranças, que pretendo deixar no mar, numa falésia bem alta e gritar: Viva a tristeza!
Entoo cânticos de fazer chorar tudo o que se diz feliz e alegre, mas sei que mais dia, menos dia, irão todos me dar o devido valor e cantar comigo, em alto e bom som, que chorar as tristezas é algo que faremos com prazer, mas sem alegria, será algo que faremos naturalmente com todas as tristezas do mundo e nos transtornará de tal forma, de tal maneira, que serão necessários vários milhares de anos para que se consiga identificar o que quer dizer a palavra alegria. Podemos mesmo ter que a esquecer e nunca mais a proferir, sendo uma blasfémia, não em termos religiosos, mas sim terrenos, concretos.
Sei que será uma tarefa fácil, pois será a antítese do que tenho hoje, mas nada é fácil, mesmo o ser negativo é difícil de manter-se assim durante muito anos, até séculos. Terei técnicas, como o silêncio, ou até mesmo abdicar de conversar, sendo essa a essência do que se pretende. O diálogo, na sua forma mais pura, leva à alegria, logo deverá ser mantido única e exclusivamente para pedir algo que não consigamos por outros meios. A língua, sendo única entre povos, será outro pilar para a tristeza. Neste ponto terei que pedir ajuda a alguém, mas esse alguém terá que ser mais triste que eu. Será fácil executar, pois não necessitamos de muitas palavras para sobreviver. Este tema é no entanto antagónico, logo utópico, pois, e mais uma vez, contraditório, por ser fácil e difícil, só por isso, não pela antítese do tema em si, mas sim pela dificuldade em executa-lo.
Em tudo há excepções, mesmo aqui, mas neste caso, não há, mas deveria, assim, irá haver. Ora, qual a melhor forma que conhecemos de nos tornarmos alegres? Exacto, o diálogo. Ora, em casos extremos e só nesses, sendo estes os que são utilizados para subverter as regras, sendo só neste sentido, para atingir a tristeza plena, que é tornar-me triste para o resto da minha existência, mesmo depois de padecer, só nesse caso extremo, poder-se-á utilizar o diálogo.
Em caso algum se pode utilizar o riso, ou rir, nem mesmo sorrir, mesmo que sendo em situações nefastas, ou que provoquem riso, como o cair sem razão aparente. Assim, e repito, em caso algum!
Mantendo uma coerência insana, terei as forças todas da alegria do meu lado, mas saberei afasta-las, mantendo os meus pensamentos de falta de dialogo, profundamente enraizados no meu eu, na minha alma, na minha mente, sendo acessível por outros, que a queiram contrapor, sendo esses os primeiros a serem infectados pela verdadeira tristeza, pela forma essencial de tristeza, aquela que nos faz querer ficar assim para o resto da vida, tristes. Não confundir com a vontade de querer morrer, pois essa é subvertida, sendo muitas vezes utilizada como forma de escape e até, em situações extremistas: a fuga! Assim, morte não consta na minha forma de pensar, pelo menos na minha, no entanto nutro a tristeza de a não poder executar, ou de a ter, bem como a de não poder controlar.
Não quero com isto fazer com que haja milhares de indivíduos convertidos, pois isso seria alegre verificar que consegui fazer passar toda a minha tristeza para os demais, será sim mais triste achar que há pessoas que conseguem entender o que estou a falar e até mesmo identificar-se com o que penso, fazendo da vida delas a mesma que a minha. Isso neste ponto de vista, torna as coisas bem tristes e assim serei um triste, verdadeiramente triste e poderei ser triste com mais pessoas, não havendo forma de ser alegre, qualquer que seja a razão para o ser.
Mesmo que…

Bom grito!