quinta-feira, 7 de julho de 2005

Hoje - 2

Quatro da manhã, às voltas na cama, vazia, fria, cheia de magoa, de dor, o arrepio torna-me ainda mais pequeno. Espreito a mesa de cabeceira, teimosamente as horas que fitam sem cessar, que ameaçam, que deturpam a verdadeira realidade... não passam de meros números. Mais uma vez desisto. A passos arrastados, transponho a minha preocupação para outra divisão. Por entre o breu da noite fria, tento desviar-me das parede, como elas de mim, sem sucesso aparente, servem de guia. Por fim, chego pesaroso à cozinha. De todas as divisões esta guarda algo que não pode mais ser esquecido, trazendo uma lufada de ar fresco à minha pobre alma, que dormente pensa em tudo e em nada. Neste momento só uma coisa interessa, copo de leite morno, para afogar esta maldita inquietude. Pacientemente encho o fervedor de leite e aguardo. Em quanto isso, sento-me e de orelhas entre as pernas e medito. Quase conseguia, quase chegava lá, mas o leite já transbordava e mais uma vez o sono transformou-se em euforia, a quietude em trovoada. Servi o leite e dirigi-me para a sala. Num acto de irreflectido, liguei o rádio. Procurei algo calmo, bucólico, que me aclamasse, tornando-se numa busca inglória. Muita música sem nexo, sem sentido, em línguas que não intendo. Desliguei o rádio. Na canto, perdida, a minha escrevaninha piscava-me o olho, tentei. Mal cheguei ao papel e à pena, lembrei-me de uma palavra: simpatia, mas não me surgia nada, mesmo nada, nem uma rima; mas com que diabo rima simpatia? Busquei por entre os meus apontamentos, rabiscos, temas de inspiração para os meus poemas sem sentido, de rimas estúpidas que ninguém compreende, da rima do mal com o anormal, do coração com o cagalhão, e nada! Nada conseguia rimar com simpatia, a única palavra que me surgia para esta rima, era, merda! E com este pensamento e após o terno efeito do leite, adormeci, ali mesmo.

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