sexta-feira, 29 de julho de 2005

A Prima

A família
Os ossos doem-me, o frio, a humidade, essa maldita, mas bem vivida velhice, que me atormenta há anos. Mas graças a Deus tenho alguém com quem posso compartilhar estes dias de hoje, porque houve dias em que nada tinha, ninguém, só o vazio das paredes, o som do vento, que fustigava as janelas do piso de cima. E de todas, a do quarto do André e da pequena, que há muito estava partida, era a que mais me fazia arrepiar.
- Tenho que ir buscar mais lenha. - comentei.
O fogo brando, quase sumido, que quase não aquece, na lareira monstruosa e as sombras na parede, a fazerem lembrar mantos negros, como abutres, que esvoaçam pela sala, na noite.
Levantei-me, ao lado da lareira um cesto de verga, envelhecido pelo fumo e pelo calor, estava meio de lanha. Retirei dois troncos grossos e coloquei-os na lareira. Peguei no livro que lia, já há duas semanas. Aquela passagem em particular fez-me lembrar a minha infância. Os dias em que corria pela casa fora com a minha prima, na altura má como as cobras, matreira, dela nada se podia prever, mas o amor que sentia por ela, superava qualquer coisa. Um dia de Inverno, como este, andávamos a correr pela sala numa gritaria pegada. A minha prima tinha-me tirado do meu quarto um pequeno cavalinho de pau, que o meu tio tinha feito com a sua navalha, sempre impecavelmente afiada e com todo o carinho. E lá andava ela com o cavalinho na mão a troçar de mim e quando passava por esta lareira, fingia que atirava o cavalinho. Eu, em pânico, gritava e chorava. A maldade era tanta que nem um leve, suave, materno, doce, tão doce, “parem com isso!”, da minha querida mãe, a fazia parar. Eu nunca consegui compreender porquê. O que a levou a atirar o cavalinho para a lareira. Tenho cá as minhas suspeitas, mas é muito difícil de compreender. Com tamanha gritaria e choradeira, foi inevitável que o meu bem dito papá ia ouvir. Austero, severo, com voz de trovão, as mãos do tamanho de panelas de sopa, os olhos azuis, mais azuis que o céu e o bigode grisalho de pontas reviradas para baixo. Era muito alto, tão alto que não se lhe conseguia ver a alma, mas doce, tão amigo e afável e tão cruelmente justo, mesmo muito justo! Ao chegar à sala, soltou um, “gostava de saber o que me perturbou o sono!”. Eu não consegui soltar uma palavra que fosse, tudo se gelou dentro de mim. O cavalinho deixou imediatamente de existir, a única coisa que me ocorreu foi o destino da minha pobre prima, mas nem uma palavra, nada. Não conseguia salva-la. Quando me lembrava do que ela tinha feito, o ódio percorria o meu coração.
- O que se passou, Júlia? - Perguntou à minha mãe.
- Nada Senhor, nada se passou. – Respondeu a minha querida mãe, com a calma duma Santa.
Não achei justo. Mas era melhor assim, que aplicar a justiça do meu papá sobre a minha pobre prima. Ela, que era sempre muito irrequieta, quando o meu papá estava por perto, tornava-se na moça mais sossegada, mais angélica e doce que alguma vez havia existido. Eu, que padecia da mesma justiça do meu pai, suportei mal todo aquele clima obscuro de traição. Ele, que estava ainda de maus modos, sentou-se no seu grande cadeirão e pôs-se a olhar.
- Júlia, o seu filho está com um olhar muito rancoroso, algo se passou! Seria melhor contar-me o que se passou...- Disse o meu pai com ar severo.
- Senhor nada se passou! – Insistia a minha mãe.
Eu, eu nada podia fazer. O meu papá era contra a covardia que assolava a maioria das crianças e sabendo disso, insurgi-me.
- Prima, gostava que visses brincar comigo para o meu quarto... - Não me apercebi do que tinha dito. O meu pai quando estava na sala não queria que ninguém a abandonasse enquanto ele lá estivesse. Fiquei muito nervoso. A enorme e volumosa cabeça, voltou-se na minha direcção e de um só sopro, trovejou.
- O menino sabe que não pode fazer isso, não sabe? – O meu pai em tom de desafio.
Mais uma vez o meu corpo gelava, era como que todo o meu sangue quente nas minhas veias me abandonasse e no seu lugar corriam torrentes de gelo.
- Sim senhor... - Respondi com o coração na mão à espera da facada fatal.
A minha adorada prima, que de feia sempre teve muito pouco, olhou para mim e da sua boca linda, saiu a língua vermelha como uma cereja. O ódio foi superior à presença do meu pai. Nada me podia travar naquele instante. Saltei de um só impulso para cima dela e bati-lhe tanto com as mãos fechadas que nem as mãos vigorosas do meu papá conseguiram arrancar-me. Estava louco de raiva! A muito custo conseguiu separar-nos. A mãe, que sempre a vira com a calma de uma leve brisa, salta do enorme sofá deixando cair a sua primorosa renda e tenta também separar-nos. Eu fiquei nas mãos do meu pai. Ainda esperneava de raiva. Pela cara da minha prima escorria um fino fio de sangue que lhe vinha cabeça. A minha querida mãe, em pânico, olhou-me nos olhos e perfurou-me! O meu pai afastou-me dali de imediato, levou-me para o quarto e trancou-me a sete chaves. Fiquei quatro semanas a pão e água, de janela fechada, tapadas por fora. O caseiro, o Sr. Antunes, enquanto pregava as tábuas na janela, escorriam-lhe lágrimas grossas pela face seca pelo pó do campo, enquanto eu ficava ali encarcerado. Tinha uma vela que tinha de racionar, pois era a única para me fazer companhia. Todos os meus pensamentos estavam voltados num só sentido, a vingança! As quatro semanas transformaram-se em anos num colégio interno. Cresci rancoroso, fechado, triste, com pensamentos pecaminosos, sem vida interior. Nunca mais vi a minha amada mãe nem ela, a prima linda não me saía da cabeça... Quando soube da morte da minha mãezinha, abateu-se sobre mim uma tristeza e uma dor tão grandes que a única esperança tornou-se óbvia, tinha que me vingar.

A cidade
Com 19 anos, acabei todos os estudos, era agora médico. Não tinha um único amigo. A igreja ia-me dando algum apoio, mas até aquele dia nada nem ninguém sabia o que me trouxera àquele colégio. A única coisa que sabiam no colégio, era da existência de uma família que nada dizia, nem uma visita, nem uma carta, só um mensageiro com a morte da minha mãe e as mensalidades. Saí para a cidade com os meus 20 anos. O Padre Zacarias aconselhou-me um cirurgião muito famoso. Fiz-me ao caminho. Tinha crédito para um dia, não mais. Ao chegar à grande cidade pressenti algo nefasto, nada iria ser como até aí, iria ser bem pior. A agitação, o barulho, os olhares, os risos, as falas, os trajes, o cheiro, tudo era novo e distinto, nada igual ao que alguma vez tinha sentido. Mas, para além disso, senti um frio de medo a percorrer-me as costas. Bem que o Padre me havia avisado. Tal como o Padre me ensinara, perguntei a uma velhota que vendia fruta como fazer para chegar à morada do famoso cirurgião. Não sei quanto tempo andei a pé, mas perguntei indicações a sete velhotas que vendiam alimentos na rua. No final, bati à porta exausto. Ninguém... Esperei quatro dias. Ao final dos mesmos quatro dias, apareceu uma senhora de meia idade que, com muita ternura, me perguntou se eu estava perdido. Expliquei-lhe a razão pela qual estava ali e prontamente se ocupou de mim. Convidou-me a entrar, esperar pelo médico que tinha saído para fora por uns dias. Estava a morrer de fome. Só trazia uma mala e a roupa que tinha comigo e umas coroas para dormir, que guardei para comer algo. Em quatro dias tinha comido quatro maçãs. Estava mesmo com fome. O médico chegou passados alguns minutos. De olhos pequenos, muito elegante, muito aprumado, de chapéu alto e bengala, de cara muito lavada, sem uma única ruga, como se a pele fosse de cetim. Prontamente a senhora justificou a minha presença. O médico ficou muito impressionado, tão novo e já médico?! Expliquei em poucas palavras o meu passado e o médico compreendeu. Esticou a sua mão, muito macia e fria.
- Dr. Ernesto de Vasques, às suas ordens.
Eu nem sabia o que dizer, estendi a minha mão e apresentei-me,
- Afonso Biscaia, um seu criado.
Foi a primeira vez em 15 anos que disse o meu nome a um estranho. De certa forma não me soou bem, nem a mim, nem ao Dr.
- Afonso Biscaia? De onde? - Perguntou de sobrolho levantado.
- De Vandins de Cima, Sr. Dr. - disse eu a medo.
- Não acredito! - E dizendo isto o Dr. dá um passo a trás, com o olhar raiado de espanto.
- Tens a certeza? - Perguntou ainda incrédulo.
- Sim Sr. Dr., tenho.
Eu não compreendia o que se passava. Ele, pega no meu braço com toda a força e atira comigo para fora de casa, com a mala que trazia e aconselha-me a sair da cidade o mais rápido possível. Algo se tinha passado e tinha a ver com a minha família, algo de muito grave. Não podia ser mero acaso, o Dr. Ernesto não podia conhecer a minha família, seria um verdadeiro acaso. Peguei na mala. Estava desesperado. Não sabia para onde ir. Já era noite. Pernoitei num vão de escada ali perto. Pela manhã, resolvi procurar algo para fazer. Se ia ficar na cidade, teria de arranjar sustento. Durante dois dias procurei trabalho, ninguém me queria. Era demasiado franzino para fazer trabalhos pesados e eram os únicos que encontrava. Por fim, consegui um emprego numa fábrica de peles. Trabalhava-se do nascer ao pôr do sol, sete dias por semana e dormia-se dentro da fábrica, juntamente com mais centenas de operários. Durante anos a fio trabalhei naquela fábrica. Via muito poucas vezes a luz do dia. Mais uma vez, o isolamento era profundo, os pensamentos cada vez mais densos. Nada nem ninguém sabia quem eu era. De três em três meses tinha folga. Um dia, numa dessas folgas, saí e nunca mais voltei. Dentro da fábrica tinha-me informado como teria que fazer para chegar à estação de comboios. Assim fiz, com o pouco dinheiro que me pagavam, juntei o suficiente para sair daquele inferno e meti-me no comboio, rumo a casa.

A casa
Na viagem, pensava em várias coisas. A primeira, e a mais antiga, a vingança, a segunda, era saber o que se tinha passado para aquele Médico. Porquê aquela reacção? E, a terceira, era se o meu papá ainda estaria vivo. A viagem demorou cerca de seis dias. Estava realmente muito longe. Depois de um dia no comboio, dois dias de diligência, mais dois a pé e um pelo meio para descansar. Quanto mais me aproximava da região, maior era o aperto no coração, não sabia se estava a fazer bem. Por um lado, só pensava numa coisa, o reencontro com o passado e a saudade, por outro, o rancor, o ódio.
Estava agora com 29 anos, deformado, muito envelhecido, pálido. No entanto, quanto mais me aproximava, mais me sentia a rejuvenescer. Lembrava-me dos momentos que passei com todos, a mãezinha, o papá e até mesmo a prima, a pobre prima. Órfã. Era filha do irmão do meu pai, que morreu juntamente com a minha tia, num incêndio. As circunstâncias do incêndio sempre foram muito dúbias, mas não seria muito difícil adivinhar o que se tinha passado. Comecei a lembrar-me dos tempos da escola primária. A minha prima Helena (há quanto tempo não digo este nome...?), que andava na mesma classe que eu e que gostava muito de andar de baloiço ela e eu. Ali ficávamos horas. O intervalo, que era de apenas meia hora, transformava-se, para nós, em apenas dois minutos. Andávamos sempre juntos, até havia quem dizia que éramos namorados, mas isso não podia ser! Mas era de facto e por isso, por vezes, só para nos chatearem atiravam-nos um pedra ou outra, mas nunca nos acertavam. Helena ficava muito irritada com isso, corria atrás deles e batia-lhes com tudo o que tinha à mão. Por vezes era eu que tinha de acatar com a culpas, pois uma menina não tem comportamentos daqueles. O comportamento na escola, levou a chamar a mãezinha, que perguntou nesse dia à noite, longe dos ouvidos do papá, o que estava eu a fazer com a Helena. Eu, com um brilho nos olhos, respondia:
- A andar de baloiço com a Helena.
A mãezinha abraçava-me e pedia para ter mais cuidado, se o papá soubesse seria muito grave.
No meio destes pensamentos lamechas, vinham as ondas de ódio. Um simples episódio tinha transformado toda a minha vida, repleta de possível prosperidade, como podia ter sido tão bom. Pensava eu lavado em lágrimas. E o que teria acontecido a Helena? Matreira e cínica como era, pensei que devia ter feito as coisas de forma a ser perfilhada pelos meus pais. Ai que dor! Continuei o meu caminho, estava quase a chegar, já sentia o cheiro. Ao longe, por entre os cedros altos, avisto as chaminés do casarão, imponentes como sempre. Parei, achei aquilo absurdo. O que estava eu a fazer ali? Não tinha sentido. Passaram muitos anos, eu para esta gente estaria morto, mesmo se não estivesse, deveria estar. E também eu devia enterrar este meu passado horrendo e sair daqui. Com este pensamento voltei para trás. Mal iniciei a minha caminhada para trás, parei de novo. Olhei para o casarão, voltei-me na sua direcção. O ódio apoderou-se dos meus punhos, cerrei-os e fiz-me de novo ao caminho, tinha de me vingar! Estava tudo com muito bom aspecto, todo pintado de branco, de um branco angelical. O jardim estava impecável, cheio com as cores do arco íris, lindo. Apetecia morrer naquele lugar, seria uma bênção. Limpei as vestes sujas de pó, arranjei o cabelo, o pouco que tinha, limpei um pouco os sapatos cheios de lama e peguei na grande maçaneta da porta principal. Como tudo aquilo me parecia bem mais pequeno, quase normal. Enquanto esperava que alguém abrisse a porta, olhei mais uma vez o jardim e reapreciei a sua beleza. Acho que nunca tinha reparado, ou será que me tinha esquecido? Envolto nestes pensamentos, sinto a porta a abrir-se. Voltei-me e lá estava, como imaginei, o Sr. Antunes, o fiel caseiro, não me reconheceu.
- Não estamos a dar nada, nem sequer temos trabalho para si, vá-se embora! – Disse com ar altivo.
Fiquei calado. Olhei nos olhos dele. O Sr. Antunes teve um estremecimento e tombou um passo atrás.
- Menino Afonso...? - Ficou sem qualquer tipo de expressão, nada, ali ficou estarrecido, petrificado. - Não é possível! – eram as únicas palavras que dizia.
- Posso entrar Antunes? - Perguntei com um leve sorriso nos lábios, o primeiro dos últimos 22 anos.
- Não sei... - respondeu.
O que se teria passado? Primeiro o Médico, depois isto? O que se tinha passado? Fiquei transtornado.
- O menino não sabe? - Perguntou-me o Sr. Antunes.
- Não sei de nada Antunes, nada! Desde que cheguei à cidade que tudo se tornou muito estranho, sem explicação. Eu não mereço isto! Diga-me Antunes, o que foi? O que se passou? - Estava cada vez mais desesperado, confuso, sem rumo, tinha chegado ali com tanto esforço, com tanta dor acumulada, com todo o rancor do mundo, com o ódio que consumia o coração e alguém ali especado na porta da minha casa, a fazer-me perguntas, o que me transtorna ainda mais, o que me faz preocupar com esta gente? Gente que me abandonou, que me deixou, como a um reles cão de rua. Era demais!
- Antunes, de uma vez por todas diga-me o que se passou !
- O seu pai assassinou uma pessoa, por causa da menina Helena e neste momento está preso.
Não me espantei, tudo seria possível, vindo da prima. Já nada tinha importância.

A prima
- E porque razão não me deixa entrar Antunes? Isso não é razão. Empurrei-o e precipitei-me para dentro da casa.
O já velho Antunes nada pode fazer, estava já sem forças para me travar. A casa estava linda! Nova, como eu nunca a tinha visto. Mas como? Se o meu papá estava preso, quem tinha posses para sustentar a casa e tudo aquilo? O Sr. Antunes ordenou que saísse, mas eu não o ouvia, não queria saber, estava muito intrigado. Ouvi vozes que vinham da sala. Pareciam vozes de criança. Fui entrando. No sofá grande uma mulher, de costas, falava com duas crianças que a escutavam com muita atenção. Não deram pela minha entrada. Um arrepio percorreu-me as costas. Uma das crianças era a prima, a Helena. Não podia ser! Gritei de espanto: HELENA!!
Ao mesmo tempo entra o Sr. Antunes. As crianças assustam-se com o grito e gritaram ainda mais alto, a mulher também assustada levanta-se e volta-se.
- Helena?! És tu?! A mulher era a prima.
O Sr. Antunes agarra-me e tenta tirar-me dali. Sacudi-o com tamanha força que foi embater com a cabeça na mesa. Ficou inconsciente.
- Afonso? És tu? Estás vivo? O que estás aqui a fazer? Não sabes que não podes estar aqui? Crianças, corram lá para cima - Disse Helena.
Mas eu não as deixei passar e agarrei-as. A miúda era igual, igual à prima, impressionante.
- Então quem são estes, Helena? Os teus filhos, é? Que lindos! Vai ser uma pena... Helena viu os meus olhos e começou a implorar.
- Não, por favor, mais tristeza não! Não consigo suportar mais! - Dizia Helena, já com uma lágrimas nos olhos.
- Achas que iria fazer isso minha rica prima? - Dizia eu num tom irónico e malévolo. Enquanto isso, as crianças não paravam de gritar, mandei-as calar, depois, levei-as para a cave e deixei-as lá, fechadas à chave. Helena implorava e puxava-me, mas eu estava cego de raiva. Não conseguia ver mais nada, a vingança, o ódio, tudo, tudo! Os anos que tinha perdido, a felicidade, o afecto, tinha perdido tudo e tudo por culpa da prima, a maravilhosa prima. Estava mais bonita que nunca. Fui pacientemente para a sala. Ela tentava desesperadamente abrir a porta da cave. Ali fiquei na sala, até que ela com um machado na mão corre na minha direcção, para me tentar matar. Consegui evitá-la a muito custo, a loucura estava espelhada na cara dela, a todo o custo tinha de me matar. Corremos pela casa fora, parecia que tínhamos voltado à infância. Que giro! Por fim consegui tirar-lhe o machado da mão e pedi que se acalmasse. Necessitava de falar com ela. A princípio nada que eu dissesse fazia diferença, ela só queria soltar as crianças. Mas com o passar das horas, acalmou-se e sentou-se comigo na sala.
- Minha prima, minha linda e amada prima, como estás? Vejo que estás mais bonita que nunca.. Os dias correm-te bem? Estás com muito bom aspecto. Casaste? Filhos, muito bem! Gosto do que vejo... - Dizia-o com um misto de rancor, saudade e ironia.
Não havia qualquer tipo de dúvida, eu amava-a. Mas não conseguia dize-lo.
- Ouve Afonso, eu não sei o que se passou contigo, não sei mesmo, mas eu não sou culpada dos teus horrores.
Como seria possível ela ter a coragem de dizer aquilo. Eu não estava a acreditar.
- Desde o dia em que te bati, aqui neste sofá, que tudo para mim mudou. Não compreendes. - E não compreendia mesmo.
- Afonso, julgas que foste o único? E eu? Sabes o quanto sofri? Sabes o que me aconteceu depois desse dia? O teu querido papá mandou-me para um colégio de freiras, perdido no tempo e no espaço, só saí de lá aos 20 anos e foi porque fugi. Como se isso não bastasse, perseguiu-me até aos confins da terra, fez-me passar pelas piores situações da minha vida, só para lhe escapar. Ainda me vens com o discurso de coitadinho? Não te conhecia assim Afonso. Mas olha que pensava que ele também te tinha matado. Fiquei muito triste, mesmo muito. Tu eras a minha única esperança de alguma vez ser feliz na vida. Nada nem ninguém sabia de ti. Sabes quem foi o teu pai? Sabes do que ele é capaz? Ele mata com as próprias mãos, é um assassino! É um louco! Matou o meu marido! O meu marido era um cirurgião que conheci na cidade e numa discussão, acerca de doenças que podem ser combatidas com cirurgia, em que o teu querido papá acreditava que as doenças só podiam ser combatidas com mezinhas parvas e muita reza, matou de um só golpe no pescoço...
Aquelas palavras perfuravam o meu coração. Pareciam tão absurdas, era um cenário tão irreal. Tudo o que eu acreditava estava ali a ser ultrajado, transformado em barbaridades e dito pela única pessoa que alguma vez podia pensar em matar, torturar, fazer mal, e o que ouvia eu? Que o mau da fita era o meu pai. Achei aquilo muito descabido. Como pode ser isso verdade? Quem pagava a minha mensalidade no colégio? Quem me enviou a mensagem da morte da minha mãe? Para todas estas perguntas, a Helena respondeu:
- O Sr. Antunes...
Não podia ser, era demasiado incrível, não podia ser.
- E julgas que a tua mãe morreu de morte natural? Foi assassinada pelo teu papá que, aliás, não o era.
Era demais! Aquela havia sido a gota de água.
- Cala-te! - E dei-lhe um estalo, com toda a força.
- Isso é demais, estás a tentar que eu te poupe a vida e a dos teus filhos! Acorda! Já não tens 7 anos, eu também não, eu já não acredito em ti! Helena, tu és a pessoa mais má que eu conheço, mais reles, mais cínica, pior que conheço. Deixa a minha casa e já! Esta é a minha casa, põe-te na rua! Já!! Peguei-lhe no braço, mas ela não se moveu. Ela só olhava para mim e dizia que eu estava errado e pedia que lhe deixasse contar tudo. Eu, louco de desejo, de lhe dar um beijo, ali, junto a ela, mas ao mesmo tempo só lhe queria espetar uma faca, grande, muito grande no coração, para acabar com tudo aquilo. Nem pensei duas vezes, dei-lhe o beijo mais louco, apaixonado, cheio de amor e, no final, cravei-lhe o machado no peito.

Epílogo
Este dia de Inverno frio, em que no quarto do pequeno André e da pequena Helena a janela bate com o vento, enquanto eles descansam na cave. O Sr. Antunes, há muito que está ali inconsciente, junto à mesa. O meu querido paizinho, que jaz no cemitério de uma qualquer prisão e tu, minha querida, que estiveste a ouvir a história que se repete todos os dias, com a tua inconsolada paciência, que estás aqui ao meu lado a fazer-me companhia, há anos, no teu precioso silêncio. Linda, linda, prima!
(Fala para o cadáver sentado no cadeirão ao lado).

quarta-feira, 27 de julho de 2005

Ida ao médico

A consulta estava marcada vai para mais de um mês. Sempre que ia ao ginecologista ficava em stress horas antes, chegava mesmo a sentir pequenas contracções involuntárias que quase a levavam ao orgasmo. Apesar de recorrer aos lavabos antes do exame, parecia-lhe sempre que quando abria as pernas o odor era intenso e a lubrificação exagerada. De resto, dobrava as cuequinhas meticulosamente por forma a que o médico não se apercebesse de que estavam molhadas. Quando o gajo lhe dizia para se chegar mais para baixo, quase que se vinha. Há que dizer que o homem não era feio. Mas podia ser. O que a excitava, o que a deixava em brasa, era o gajo ser ginecologista, não o conhecer de lado nenhum e estar ali de perna escancarada e grelo à mostra. O tipo não dizia nada mas percebia o que se passava. Por alguma razão ele já não punha o gel lubrificante no espectro. Ele calçava a luva de latex e abria-lhe a dita. Se a gaja falasse estava a gritar: anda chupa-me toda! Vá meu cabrão, põe a mão por mim a cima!
Está tudo bem. Dizia-lhe o gajo, num tom que lhe pareceu trocista. Ela agarrou-lhe a mão. Não está nada tudo bem! Sabe muito bem que não está tudo bem ou acha que ando sempre por aí a pingar como se fosse uma torneira? Desculpará, minha senhora, mas eu não sou canalizador... respondia o gajo com cara de parvo. Não era canalizador mas já tinha a chave de fendas montada que a bata branca já parecia uma tenda de campismo...
Mau, mau, foi quando a ajudante entrou e foi dar com os gajos a tratarem do sifão...

By Lasciva

terça-feira, 26 de julho de 2005

Diário de uma noite.

Nada fora do normal, igual a muitas outras, com algumas diferenças, sem carro, sem cool driver, sem Gregório Gregório, só eu e mais eu.
Começo a noite no Irish, uma pint of Guiness e um Jameson pequeno. Cais do Sodré , pois é! Bebo e saio, logo ao lado bebo um café. Subo a Rua do Alecrim. Um, arrumador experiente faz sinal a um autocarro para estacionar num lugar onde só cabe um Smart. Já no Bairro Alto e, depois de estar devidamente acompanhado por uma preta, observo a fauna e a flora. Um tipa tenta entrar no bar, mas é placada pelo porteiro. Trazia na mão uma garrafa de litro e meio 7 Up “alterada” e como todos sabemos isso não é permitido por lei. A lei diz: “Em todo e qualquer caso, nunca um utente de um bar deverá entrar com uma garrafa de 7 Up alterado.” E assim a lei foi cumprida. Não obstante este facto, outro assume ainda menor relevo, pois a tipa não trazia nada vestido da cintura para baixo. O porteiro desse mesmo bar, encabela conversa com um “gajo da noite”. O dialogo é extremamente interessante; falam de um possível indivíduo e pelas descrições, acham que estão a falar do Manel, pelo menos é que consta. Mas quando compram os traços fisionómicos, nada bate certo. Ora nem mais! Após este episódio Freudiano, deparo-me com uma figura que me arrepia e logo tenho o chamado, “flash”; Bin Laden mora no Bairro Alto! Outro bar, mais uma preta, leio umas coisa, outra preta e saio. Na esquina do Frágil a habitual fauna, a flora é que vai mudando, umas vezes mais activa que outras. Deparo-me com verdadeiro paradoxo, na esquina em frente ao Frágil, está uma loja de ferragens. Isto seria normal se as lojas de ferragens não fossem um dos bastiões dos puros machos. Lindo! A tia Alice is on the house! Yees! Cumprimentei-a, como sempre faço, quando está. E sai um pontapé na cona! Venho para a rua. Aprecio os transeuntes, bebo outro pontapé, peço mais um. Venho para o meu canto. Ao meu lado rebenta uma bomba e pelo cheiro é das boas! Já não sentia este cheiro já a algum tempo, era mesmo intenso! Passam dois bófias e a bomba continua a deflagrar. Nada de mais, tanto que se pode fumar, mas o mais interessante foi quando os bófias efectivaram a sua passagem, ai as bocas começaram: Olha ai, refunde a cena! Olha a bófia! - Eu não aguentei, tive que desmanchar... ahaha! Passados 2 segundos, passam um grupo de ex-cons e nem ai nem ui, tudo normal. Não compreendi. Mais uns minutos tornei-me suspeito, resolvi evaporar. Passei pelo Museu Maçónico, WHAT?! O Museu Maçónico é no Bairro Alto!!? Ok... não sabia.
Uma questão primordial: Porque razão os cães da rua andam sempre com os mendigos, bêbados e janados?
Já me estou a passar; Onde está o sangue!!??
Hora Bossa Nova na rua, no Bairro Alto, muito bonito!...
Pernas, as pernas, são curtas, muito curtas! Anão!!
Começou a paranóia, ciao!
Noite Bauhaus.

sexta-feira, 22 de julho de 2005

Homem vagina e mulher pénis

Vinha hoje no autocarro e pensei: e se as pessoas trocassem de sexo? Ou seja, se os homens tivessem vagina e as mulheres pénis, mas tudo o resto mantinha-se. Estão a imaginar?
Passo seguinte, as questões...
- Quem tem os bebes? A mulher.
- Por onde saem os bebes? Pela pequena ranhura do pénis, que se dilata, tipo cabeça de serpente.
- Os óvulos, como são fecundados, quem tem o esperma e o óvulo? Fácil! A ejaculação do homem é dentro da sua vagina e ai fica. Aquando da penetração da mulher, o seu pénis no momento do orgasmos suga o esperma de dentro da vagina do homem, que em seguida entra para as trompas da mulher, onde se encontra o óvulos, podendo ai ser fecundado.
- E o prazer? Sim, esse tema muito importante! Os homens na sua vagina detém o clitóris, e as mulheres a glande do pénis, simples!
- Urinar? Basta trocar os sinais nas casas de banho!
- E o período da mulheres? Têm-no à mesma. O sangue sai pela ranhura do pénis.
- E o que faz o homem depois de um orgasmo? Lava, ou então sai. Já no caso das mulheres, aquando do acto sexual, a maior parte do esperma é absorvido pelo fluidos corporais da mulher, o resto sai.
- E as frases? Tipo: Toma querida! Será alterado para: Dá-me querida! Já as mulheres dirão: Fazia-te um minete agora mesmo e aqui! Ou então: Estou cheia de tesão, até se nota no vestido... oops!
- Os homossexuais? Os homens “brincam” com os “dildos”, entre outras coisas uns com os outros e as mulheres passam a ter sexo anal, simples não acham?
- E as habituais cenas, o meu pénis é maior que o teu, como é? Será : Olha p’a minha vagina! É mais vermelha que a tua! Olha p’o meu clitóris!!
- E o resto? Tudo normal, o homem mantém os testículos, a mulher os seios, as mulheres continuam femininas e os homens machões, or not...

quarta-feira, 20 de julho de 2005

11 de Outubro

António que nunca tinha provado o borrego, pede meia dose. O empregado meio zarolho, olha-o com ar de desdém e do alto do seu metro e quarenta riposta:
- O Sr. quer o quê?!...
- Meia dose de borrego, se faz favor. – Com um ar intimidado.
- Como queira.... – Cuspe no lápis e aponta o pedido no seu bloco infecto de pontas castanhas da gordura.
- Já agora e se não se importar, o meu amigo também queria pedir, pode ser? – Ainda mais subserviente.
- Calma pá!! Só tenho dois braços! – com maus modos - Ora portanto, uma de borrego e para o Sr o que vai ser...? – Acenando com a cabeça para mim.
- Eu queria uma omelete de camarão.
- Hãn? De quê?
- Camarão.
- Vou ver se temos. – com modos de taberneiro mal cheiroso.
- Com certeza. – volto-me para o António e pergunto – Ó António, diz-me lá uma coisa.
- Diz lá...
- Quando disseste que íamos comer, não me lembro de ter mencionado que íamos comer ao bufete do hospital? – com tom irónico.
- Porque dizes isso?
- Estamos num dos lugares mais finos e caros de Santa Margarida do Azorro e começo a achar que este tipo não gosta muito de água, muito menos de nos servir.
- Óh isso, não te preocupes. O Sr. Amaro é assim mas é boa pessoa.
- Acredito António, julgo é que ele não sabe disso.
- Não sejas assim tão incrédulo Martins. Tem mais fé nas pessoas.
- Gostava, mas às vezes julgo que não, em especial quando me deparo com situações como esta e sabendo disso tento a todo custo evita-las.
- Isso é que fazes mal. Se sabes de ante mão que as situações podem ser assim porque razão tentas encara-las e ao mesmo tempo evita-las?
- Mas meu amigo, este situação foi inesperada. Eu julgava estar num restaurante de 5 estralas e o que vejo? Um taberneiro que me ameaça batatada, cospe para lápis como que se do pénis se tratasse, acho que isto é sinónimo de um atendimento personalizado e de alto gabarito?
- Mas julguei...
- Cala-te! Eu estou muito arrependido de estar aqui contigo! Sempre julguei que fosses mais selectivo nas tuas opções e o que vejo eu? Hãn? Um qualquer restaurante vão de escada, perdido no meio de um aldeia Serrana, onde o frio transparece por entre as pedras da calçada branca, como que se quisesse apoderar dos teus malditos joanetes!
- Ilário? Ilário Martins? Allô? Chama Ilário Martins à terra... Allô?!?
- ... e como que por entre a bruma, serrada, o nevoeiro húmido, carregado de morte...
- Martins? Já chega! Estás a começar a assustar-me, basta! Volta!!
- Posso ser útil n’alguma coisa? – Pergunta o empregado imundo.
- Nada Sr. Amaro, muito obrigado. Muito gentil da sua parte.
- ... em nada se transforma quando se tenta alterar, em nada se converte quando se tenta alimentar, o luar carregado....
- MARTINS!!! BASTA!!! – e com estas duras palavras sacode-me, provocando um colapso no meu minúsculo cérebro, que chocalha dentro da minha enorme caixa craniana.
- ... Hãn?! O que foi?! Onde estou!? – de olhos alucinados e raiados de loucura, despertei. – António? És tu? O que se passou?
- Não sei Martins, não sei... mas fiquei apavorado, mesmo muito. – Com a sua mão magra e gelada, António passa-a pelo meu rosto. – Pronto já está tudo bem, pronto... como te sentes?
- Não sei, muito confuso, como que o meu corpo tivesse sido invadido por outro ser, sinto-me conspurcado, sem alma, vazio. Como que sentisse que este não é o meu cheiro, este não é o meu casaco.
- Bem estranho Martins, bem estranho... – comentado isto com comigo e olhando para o Sr. Amaro evidenciando loucura da minha parte.
E com estas palavras, saiu e dirigiu-se para a sala de encontro. Aí passa cerca de dez minutos, tempo suficiente para eu rever o golpe final. Como antecipara um final feliz, de um só gesto revi todos os passos do amigo António. Não me fiz rogado e passei ao ataque. Sabendo de ante mão o que me trazia aquele lugar, resolvi fazer o que tínhamos em mente. Fiz de conta que me sentia mal e fui até ao bar. Esperei pacientemente que o meu amigo António se livrasse do empregado sebento. Mais quinze ou vinte minutos e tudo aquilo iria terminar. António dava conversar ao empregado e ao chefe de mesa pedindo desculpa pelo sucedido. Consegui por entre a conversa perceber que tudo estava esclarecido. Nada tinha alterado o plano. Voltei para junto dele.
- Então, tudo mais calmo, amigo Martins? – Colocando a sua mão sobre o meu ombro, enquanto me sentava de novo junto à mesa.
- Tudo melhor agora... Olha lá, António. Tens a certeza que ele vem?
- Martins? A rosa está vermelha...
- Sim, mas eu estou a começar a ficar com suores frios.
- Martins, o que foi que te disse o meu padrinho? Se isso acontecer, é porque Ele está lá em cima a olhar por nós.
- Sei! Mas tenho receio que não cumpra a minha parte.
- Deixa estar, eu ajudo-te. – e com estas palavras tudo ficou claro na minha cabeça.
Todo o plano estava exactamente a correr à mil maravilhas! Era impressionante, quase um sonho, uma realidade abstracta, lindo, o paraíso estava a dois minutos de distância.
- Martins, o tipo acabou de chegar.
- Óptimo António! Óptimo! Está tudo a compor-se, estou calmo, já vi tudo. – disse-o com um olhar apaixonado.
- Isso, já vi que sim. É muito bonito não é?!
- É lindo António! É lindo!
- Estás pronto Martins?
- Sim estou...
- Sentes o saco de baixo da mesa?
- Estou com ele na mão e estou a sentir o detonador.
- AGORA!!!
E os dois bem alto gritámos: Ala!!
Mais de 40 mortos, entre eles um dirigente político interveniente nas negociações, cerca de 200 feridos, o meu amigo António ao meu lado desfeito e eu no céu observo, no entanto, penso que nada daquilo tem muito sentido... porque razão o sangue é todo da mesma cor...?

terça-feira, 19 de julho de 2005

A razão

A besta imensa que divide a minha razão é comparada só, única e exclusivamente, a um elefante cheio de vontade de copular, com uma cadela sem o cio.
Se acham isto bárbaro ou sem sentido, tentem falar com o meu dermatologista após uma consulta de rotina. É virtualmente impossível tentar compreender ou encontrar qualquer tipo de sentido, seja ele nefasto ou concreto, nas palavras do homem. Tudo quando julgavam conhecer e mesmo o que julgo não conhecer, é vos posto à vossa frente na forma verbal, para além disso há os indícios físicos de que algo vai rebentar dentro dele. Os olhos saem das orbitas, as veias jugulares transformam-se em grandes mangueiras, como as dos bombeiros, os dedos e unhas cravam-se nas almofadas do cadeirão, a saliva em forma de espuma escorre abundantemente nos cantos da boca e por entre esta estado de espirito saem palavras como: eczematosas, psoríase, disidrose, vesiculante, Streptococcus pyogenes grupo A, estreptococos ou até estafilococos, misturadas com palavrões para além do aceitável, a roçar o fantástico. Isto tudo porque fui à praia de Cruz Quebrada.
Por isso estão a ver como está a minha razão, basicamente está eczematosas, psoríase, com disidrose, vesiculante, com streptococcus pyogenes grupo A, cheia de estreptococos ou até estafilococos, mas por outro lado sei muito bem quando estou feliz.

sexta-feira, 15 de julho de 2005

...

Se deus fosse uma pedra, seria surdo que nem uma porta.

quinta-feira, 14 de julho de 2005

Manual de boas práticas

No cinema:
- Perguntar à pessoa que está a vender os bilhetes se tem trocos. Se responder que sim, pague com Multibanco, se responder que não, faça um sinal para o fundo da sala e vá-se embora.
- Quando estiver a comprar o bilhete pergunte se as cadeiras estão equipadas com algálias.
- Entre na sala dois minutos atrasados e gritem: “Porra! Deixei o telemóvel no frigorifico.”
- Quando lhe estiverem a indicar o lugar, iniciem um choro nervoso e digam que não querem aquele lugar, que preferem o lugar do morto.
- Depois de sentados e passados 30 segundos, finjam que estão a dormir.
- De 10 em 10 minutos levantem-se, no caso dos Srs. ajeitem o cabelo e no das as Sras. ajeitem o cabelo.
- Baixinho vão chamando a pessoa que está no outro lado da sala, com um pssst e aos poucos intensifiquem o psst.
- Caso optaram pela sala de cinema pipoca, encham a boca de muitas pipocas e depois prenunciem a palavra Afonso, mas com muita força.
- Se for um drama, entrem na sala com um rolo de papel higiénico e apontem, para a pessoa que vai a vossa frente.
- Se for um filme de acção, quando estiverem a entra da sala, benzam-se.
- Se for uma comédia, entrem na sala antes de começar o filme a rir às gargalhadas e quando alguém se rir durante o filme, mandem a calar, evocando surdez.
- Se for um outro filme qualquer, não vão ver.
- Se for um outro filme qualquer, mas queiram lhe dar um tema, façam o mesmo.
- Se for a primeira vez que vão ao cinema com aquela pessoa, digam que sofrem de claustrofobia, após o final do filme.
- A meio do filme ponham o braço no ar e esperem que alguém chegue junto de vós. Se isso acontecer, peçam um Vodka Martini, com duas pedras.
- Antes de desligarem o telemóvel, experimentem todas as melodias do vosso telemóvel. Se isso demorar mais que duas horas, peçam desculpa no fim.
- Quando as luzes se apagarem, gritem de pânico. E digam alto e bom som: Não fui eu!
- Caso tenham um chapéu alto, tragam-no e exibam-no com vaidade antes de se sentar. Olhem nos olhos da pessoa que está a trás de vós e digam-lhes com um sorriso nos lábios: Boa noite.
- Mesmo que tenham idade para ver o filme que vão ver, comentem isso com a pessoa que está a obliterar o bilhete, de uma forma tímida.
- Caso seja Verão, antes de entrar na sala vistam um sobretudo e façam um ar austero.
- Se depois disto, ninguém reclama, ou ainda está na sala, saia e diga em alto e bom som, olhando para o proteccionista: “Nem um homem, quanto mais...”
- Se alguém o expulsar, desculpe-se. Diga que tem gases. Quando estiver cá fora, pergunte as horas e compre o bilhete para a próxima sessão.
- Muita atenção: Por nada interrompa o visionamento da película se estiver muito “à rasca” para urinar. Faça nas no local onde está sentado, caso a sala estiver equipada com algálias; se não estiver, não sei o que deve fazer.

Bom filme!

Atenção

À quanto tempo não olham para a Lua? Já reparam que está diferente. Vejam bem.

quarta-feira, 13 de julho de 2005

Rap’parta!

A seiva que corre do pinheiro,
Dá sempre muito dinheiro
Como uma lagosta por inteiro
No meu carro a pilhas verdadeiro

A gruta era mesmo funda
Do tamanho de uma bunda
Mesmo muito profunda
E Tinha um ar muita chunga

Fui apanhar macacos para o Ruanda
Montado na grande chanca
A tua grande tranca
Vai estripar a minha baganha

Meteste a tua prima
No meio de uma ravina
Tenho o dedo numa tina
E ou outro na tua vagina

Já me disseram que era aldrabão
Mas não quis acreditar
Só tenho uma mão
Para me coçar

Assim de longe
Até pareces um monge
Mas mais de perto
Não passas de um feto

Desde pequeno que tenho a mania
De que a minha tia
Tem a panela fria
Mas era só azia

Vi a tua sogra
A comprar dois quilos de soda
Tinha ainda de sobra
Mas quis comprar mais

Estive na lareira do anormal
Estava lá um marsupial
A fazer tricô
Quanto eu brincava com o iô-iô

Já me disseram que era aldrabão
Mas não quis acreditar
Só tenho uma mão
Para me coçar

terça-feira, 12 de julho de 2005

À pois é!!

9 da manhã, ligo a televisão, como bom cidadão que sou, vejo as notícias nacionais e do mundo.
Fenómenos estranhos, alterações climatéricas, finanças, política; enquanto me preparo para mais uma dia de árdua labuta, vou ouvindo tudo com muita atenção. Eis que se não quando uma notícia, aparentemente inofensiva, chama-me à sala e se torna num verdadeiro sonho:

Ainda com a barba meia por desfazer, não penso duas vezes; hoje não vou trabalhar!
E por volta das 13:30...:


Amanhã, dia 3, será um novo dia, com ele os passarinhos voltaram e cantaram de alegria, uns por estarem mesmo felizes, outros porque nós achamos que sim.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

Grito

No dia 25, saí, na noite difusa, corpos esvoaçantes de desejo, misturam-se na bruma do fumo do tabaco, que conspurca a pele, limpa, lavada, perfumada, suave. Algo me impele para o bar; serão as luzes, o olhar, o som, a sede. Tento não pensar muito nisso e dirijo-me autonomamente, sem dar contas a ninguém, nem se quer a mim. Olhos fixos na rapariga do bar e peço, sem tremer as mãos, sem soluçar, sem hesitações.
Um copo de água, por favor.
Contorcia-me ao som da música.
Sai, fui à casa de banho.
Quando voltei as pessoas estavam muito diferentes, só depois me apercebi que a música tinha mudado, bem como as luzes. Já a rapariga que me seguia para todo o lado, inclusive para a casa de banho, essa mantinha-se na mesma, como que se não fosse necessário dizer que eu estou ali, mas ela não teria que estar, mas estava e nada disso iria mudar a minha forma de pensar. De qualquer forma, mantinha a mesma postura desde à três horas. Calada, olhava-me, tocava-me no ombro e pedia algo, mas eu não compreendia, eu não a conseguia ouvir. Fiz um pequeno esforço, contudo ela ao ver que eu estaria interessado em saber o que ela teria para me dizer, ou pedir, correu e de um só salto, mergulhou na noite, caindo no chão, sem um único som. Saltou da varanda, sorte a do idoso que por ali passava.
Saí, fui à casa de banho.
No bar, pedi um copo de água.
A musica era cada vez mais intensa.
Com a alarido provocado pela garota, nada pude fazer, se não tentar encontrar alguém que a substituísse. Tarefa árdua, impossível, mesmo desesperante, até que por um milagre (coisa que não acredito), aparece um anjo. As vestes que trazia identificavam um sabor tórrido, seco e sem sal. Mas os olhos, tenros, e negros como a noite sem luar, transpareciam um súbito ar de desdém, que aos poucos se convertia em sufoco. Mais uma vez, nada pude fazer. Tal como a primeira, esta, ficou a meu lado, de uma forma diferente, mais colada, mais junta, por certo seria da idade. Em tudo diferente, mas em tudo igual, não só por ser um mulher, como eu sou o mesmo.
A música, aí esta música!
E vai mais uma copo de água...
A casa de banho, fica tão longe.
Sem querer deixar arrefecer muito a noite, passei ao ataque. Tentei por várias vezes prenunciar o meu nome, mas não sai nada, só grunhidos, sons sem sentido, ao que ela, respondia, “Prazer...”. Desde logo percebi que a comunicação estava condenada ao olhar. Dancei mais um pouco, já não sentia o chão, digo-vos que não é uma sensação fantástica, é mais na onda do surreal, do ‘se-bem! Tão juntos, tão fundidos, que pensei que tinha mudado de sexo. Julguei-me fora de mim, dentro dela, senti o meu sexo em mim. Assim que os meus lábios penetraram nos dela, tudo mudou, nada ficou, desde essa hora até ao dia seguinte e dentro dos próximos dois mil, trezentos, oitenta e 3 anos, não mais os vou largar, bem... posso fazer uma pausa de dois mil, trezentos, oitenta e 3 anos, menos duas semanas.
Bebi um shot de urina.
Dancei a casa de banho.
E, paguei a música.
Quando me dei conta das horas, soltei um grito lancinante!

Nax saca dex nhima mãri

Nax saca dex nhima mãri, iv mua nhaara, aer drange, merone, otã drange equ sox hsolo rmae dox nhomata dex rintenasga. Solvire ud-ala oa ijdriam closae sima imóxipra. Ifo mnteportane aitece. Canun sima ax iv, daiand johe nhote daesduas elad...

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Volta!

Procuro-te no fundo da escada, mas não te encontro, só um leve toque do teu perfume, que pelo cheiro, já deve ter vários dias. Desapareces-te, não te vejo à dias. Não consigo saber bem o que se passou. Estava tudo tão bem, andávamos tão felizes, tu na cozinha, eu na sofá, tu na casa da minha mãe e eu com os meus amigos, estávamos mesmo felizes, bolas pá! És mesmo mal agradecida! Fiz de tudo para te agradar! Comprei a máquina de lavar roupa nova, um lava-loiças maior, um esquentador de ligar automático, até comprei um caixote do lixo daqueles da reciclagem. Que queres mais?!?! Já não te batia à dois meses e tenho me controlado a beber, já só vinha duas vezes grosso para casa. Até comprei um saco de pugilismo para não te bater! Devias agradecer-me, pá! Até no outro dia fui contigo ao centro comercial e fui dar uma volta enquanto tu foste comprar trapos. É claro que mais que uma hora a fazer essas coisas, chega bem, mais vale isso que nada! Tens que ver as coisas por esse prisma. Já para não falar que uma semana antes de teres ido embora, encontrei a tua mãe na rua e até consegui falar-lhe e tudo! Ela é claro que depois de eu a cumprimentar ficou para lá a falar sozinha: “Você é um crápula! Estúpido! Veja bem o que está a fazer a minha filha, ela anda toda desgraçada...!” - Eu é claro que fiz ouvidos de mercador. E depois da morte do teu pai, nunca mais lhe disse nada, não a quero chatear. Por falar em fazer mal, como está a tua orelha? Melhor espero eu...
Só pode ter sido da lua, ou se calhar da gaja que estava na minha cama quando chegaste a casa. Mas podes voltar, eu já lavei os lençóis, a casa de banho e a cozinha. Eu sou mesmo bonito, não sou? Volta, por favor...

Hoje - 2

Quatro da manhã, às voltas na cama, vazia, fria, cheia de magoa, de dor, o arrepio torna-me ainda mais pequeno. Espreito a mesa de cabeceira, teimosamente as horas que fitam sem cessar, que ameaçam, que deturpam a verdadeira realidade... não passam de meros números. Mais uma vez desisto. A passos arrastados, transponho a minha preocupação para outra divisão. Por entre o breu da noite fria, tento desviar-me das parede, como elas de mim, sem sucesso aparente, servem de guia. Por fim, chego pesaroso à cozinha. De todas as divisões esta guarda algo que não pode mais ser esquecido, trazendo uma lufada de ar fresco à minha pobre alma, que dormente pensa em tudo e em nada. Neste momento só uma coisa interessa, copo de leite morno, para afogar esta maldita inquietude. Pacientemente encho o fervedor de leite e aguardo. Em quanto isso, sento-me e de orelhas entre as pernas e medito. Quase conseguia, quase chegava lá, mas o leite já transbordava e mais uma vez o sono transformou-se em euforia, a quietude em trovoada. Servi o leite e dirigi-me para a sala. Num acto de irreflectido, liguei o rádio. Procurei algo calmo, bucólico, que me aclamasse, tornando-se numa busca inglória. Muita música sem nexo, sem sentido, em línguas que não intendo. Desliguei o rádio. Na canto, perdida, a minha escrevaninha piscava-me o olho, tentei. Mal cheguei ao papel e à pena, lembrei-me de uma palavra: simpatia, mas não me surgia nada, mesmo nada, nem uma rima; mas com que diabo rima simpatia? Busquei por entre os meus apontamentos, rabiscos, temas de inspiração para os meus poemas sem sentido, de rimas estúpidas que ninguém compreende, da rima do mal com o anormal, do coração com o cagalhão, e nada! Nada conseguia rimar com simpatia, a única palavra que me surgia para esta rima, era, merda! E com este pensamento e após o terno efeito do leite, adormeci, ali mesmo.

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Carne Podre

O mistério da carne podre, que definha e cresce por entre as pedras do caminho, tão escura, tão mal cheirosa, tão infecta, mas que nos atraia, a cheirar, a tocar, chegando mesmo a tornar-se uma obsessão de a ter nas mãos, junto ao corpo, de leva-la connosco, de a exibir, de mostrar que a conseguimos ter, sem que nos faça qualquer tipo de mal.
Mas após alguns dias, as doenças, as náuseas, os arrepios, os suores frios, o querer tirar e não conseguir, o lavar, raspar e não sair, o cheiro infecto que se nota a léguas, não mais nos larga. Pensamos que nunca mais nos irá abandonar, mas há uma solução! Sim há! Temos que nos convencer que a carne fresta é mais saudável, mais difícil de obter, é certo, mas mais fácil de sair. Não tem o mesmo aspecto apelativo da podre, a qual se consegue obter sem grande esforço. Mas compensa. É mais limpa e saudável. É bem mais difícil de obter, e as quantidades são sem dúvida insignificantes, quando comparadas com a da podre, mas dá mais gozo, mais gosto e não cheira tão mal.
Por isso eu digo a bem de verdade, não comam carne. Comam merda! Essa sim é a verdadeira ambição de qualquer um.

segunda-feira, 4 de julho de 2005

Adivinha

Se um maneta é uma pessoa só com uma mão, como se chama uma pessoa só com um cão?

sexta-feira, 1 de julho de 2005

Hoje

Mas que raio andam estes palhaços a fazer? Cada dia que passa fico mais baralhado... não sei se os deva mandar para o caralho ou para a cona da mãe deles! Que palhaçada!! À e tal, não vamos mexer nos impostos e mais não sei o quê! A merda! Mas não há ninguém que os trave?! Que lhes faça medo? Acho que se uma deles fosse morto, como na Espanha se fazia, resolvia-se muita coisa! Passam sempre incólumes, como se nada fosse, até de riem! Isto tem que acabar! É que é muito difícil aguentar isto... não sei mesmo onde isto vai parar, aliás até sei; eles cada vez melhor e nós cada vez pior!

Mas porque raio inventam tanto?! Não é preciso inventar, basta copiar o que os outros fizeram bem, e no máximo fazer um pouco melhor, há que ser práticos! Nós não somos melhores que os outros países, somos iguais ou até mesmo piores, deixemo-nos de merdas! E outra coisa, se não gostam do nosso país e estão sempre a dizer mal dele, VÃO PARA OUTRO QUALQUER! E deixem-nos descansados, se não querem trabalhar, emigrem! Temos uma pais excelente! Com óptimas condições.

Outra coisa, ajudem o próximo, nem que seja uma vez, acho que não é pedir muito. Quando falo de ajuda, basta dar conta que está uma pessoa ao vosso lado e que de alguma forma poderão ajuda-la, nem que seja abrir uma porta, dar passagem no transito, partilhar um elevador, apanhar um papel da chão, sei lá tanta coisa. Quantas vezes já deram a vez na fila da pagar as compras no Supermercado?...

Ouvi esta semana no noticiário: “Temos que começar a pensar no nuclear como energia alternativa para o nosso pais...” Só agora é que se ouve falar nisto?!?! Devem estar a brincar comigo não? Olha a Espanha já lá tem energia nuclear desde os anos 70!
Já devíamos ter energia nuclear à muito tempo! E os recursos hídricos? Porque razão não são aproveitados?! PORQUÊ CARALHO! Faz-me tanta confusão! O que interessa é casas... CASAS E MAIS CASAS!

E o turismo estúpido, de província, para não estragar a fauna e a flora, ai ai... a MERDA! Sabem o que é proteger em Portugal? É deixar a mata crescer, VIRGEM, sem ser tratada, para depois se possa pegar fogo e construir á vontade! Uma mata deve ser partilhada por todos e deve ser explorada por todos, deve estar bem tratada e vigiada. Organizar passeios de jeep, ou a pé. Mas o que fazem os defensores do ambiente? Andam de Renault 4, que é dos carros mais poluentes do MUNDO!

Bom fim de semana. Vou para a Costa de Caparica... mais o seu belo plano Polis... A MERDA!

PS: Isto amanhã passa...

Tetas e mais testas e não são da treta!

Daily Nipple