Não se trata de um conto de Natal normal, mas sim dum conto de Natal anormal.
Era uma vez uma velhinha que vivia sozinha numa casinha, no alto dum monte. Era muito velhinha e metia coca todos os dias. De 3 em 3 meses o seu filho recolhia o produto e distribuía quilos e quilos pela cidade, em troca de lenha e couves, ou um pato, de vez em quando. A pobrezinha também cultivava ópio em estufas, que dava. Outras vezes davam-lhe em troca grandes quantidades de limão, que espremia e fazia limonadas excelentes. A erva era da melhor qualidade. Todos os dias fazia uma sopa para os pobres, para os mais carenciados e outros tantos pobre coitados que viviam nas redondezas e não tinham onde cair mortos. Tudo corria bem, no monte Alfores.
Certo dia apareceu um cavalheiro que parecia perdido. Bateu à porta da velhinha. Ela abriu. Ainda vinha com as narinas brancas do ultimo snif. O homem que pelo aspecto parecia ser estrangeiro, perguntou em Inglês onde podia encontrar um mecânico e como podia ser feliz junto duma mulher mais velha. A velhinha que sabia umas palavras em Inglês, indicou-lhe o caminho para a cidade, mas sem antes o convidar a dar uma. Ele recusou. A velhinha que passava muito tempo sozinha, ficou cheia de vontade de estar com o pobre homem. Como não tinha conseguido, ligou para o sobrinho, que prontamente a acudiu. Ficou satisfeita. Mas ficou sempre com a pulga atrás da orelha com o aparecimento de tal personagem por aquelas partes. A casa da velhinha era muito isolada, nada nem ninguém sabiam da sua existência, só quem queria produto, ou quem tinha fome, ou mesmo quem nunca tinha visto um melro que dizia as horas em Russo. Tentou saber do paradeiro do homem. Ligou para os seus informadores. Ninguém tinha visto o homem pela cidade. Pensou o pior. Pôs-se a caminho. Tirou o seu andarilho da garagem, ligou-o e lá foi a velhinha por montes e vales, na busca do suposto malfeitor. Encontrou umas pegadas junto do vale do Berço e o rodado dum carro que não conhecia. Pelas marcas, seria o carro do individuo. Arriscou mais e desceu. O seu andarilho estava equipado com tecnologia de ponta, nada era intransponível para o Guppy andarilho 3000. Quando chegou ao fim do vale, encontrou o carro parado, meio abandonado. Apeou-se. Pegou na glock 9mm, armou-a e procurou-o. Por entre os arbustos viu um vulto. Lá estava o homem, de calças em baixo a evacuar. Guardou a glock e disse com vós de velhinha que não podia estar ali a evacuar, não era ético. O pobre homem ia morrendo de susto e ficou cheio de tesão. A velhinha nem esperou que o homem limpasse o rabo e sentou-se em cima do mastro bem desfraldado. Ali tiveram até que o dia se pôs. O frio no vale era de rachar. Fizeram uma pequena fogueira, falaram a noite toda, entre penetrações animais, um risco aqui e ali e uns charros de erva da melhor qualidade. O homem de manhã tinha zarpado. A velhinha ficou em pânico, pois não só tinha deixado o bacalhau de molho, como pensou que algo poderia estar a acontecer com o seu lar. Pegou no andarilho e a toda a mecha, zarpou rumo à tua humilde casinha. Quando lá chegou, o pior estava a acontecer. Estavam a transportar a sua pobre e velhinha casa para outro lado. Ela ficou aterrorizada e fumou um ali, na hora. Deu um risco e acelerou! O homem, a sua grande paixão por uma noite, comandava as operações. Máquinas, homens, gruas, ferramentas, gatos e um gnu. A velhinha suplicou que não movessem a casa dali, pois desde que nascera que ali morava, mas o homem olhava-a com desespero e ordenava em Esperanto aos seguranças que a levassem dali. A velhinha estava perdida, em ansiedade pura, não sabia o que fazer. Perto do meio dia, apareceram os clientes do costume e foi com ar de espanto que viram tal aparato. Juntara-se em bloco e protestaram com paus e canetas de feltro. Gritavam em conjunto: “Não ao movimento!”. Eram completamente ignorados e nada puderam fazer. A casinha, velhinha, de xisto e pedra, estava a ser movida para um ermo. A velhinha não compreendia como tal desgraça lhe poderia estar a acontecer. Não tinha assinado nada e assim sendo, não tinha autorizado tal atrocidade. Mas no meio de tudo, lembrou-se que prometeu fidelidade ao homem e assinou um papel, lá para as 3 ou 4 da manhã, em que dava totais poderes ao cavalheiro, de fazer o que quisesse com tudo o que era dela. A nova produção de erva, tinha sido enxertada com outras ervas com índice de THC mais elevado e foi dessa erva que levou para o vale. Para além de tudo lhe parecer amanhã, o sorriso, a tesão, a felicidade, a vontade de voar, o querer subir aos pinheiros, de rebolar pela erva fresca da manhã e de ter tido a sensação de ter assinado uma treta qualquer, devia-se à tal erva. Pensou em usar a glock e despachar aquela gente toda. Mas a pobre velhinha era tão boazinha, que no mesmo tempo que teve tais pensamentos pecaminosos, recuou. O misterioso homem, não passava dum impostor que queria tornar aquele monte, numa estância turística e fazer rios de dinheiro à conta dos ricos que vinham das cidades em volta, bem como dos estrangeiros sedentos de horas de lazer, sem dar tréguas às pobres retretes que por aquelas partes eram como cogumelos. Devia-se à água do rio Franzião, que passava pelo meio do monte, pois a água estava contamina ainda com produtos que a velhinha tinha posto nos cultivos. Toda a produção tinha sido arrasada e viviam-se anos de infertilidade, pobreza extrema, agonia, maus tratos aos animais domésticos e muito solidão para os pobres. A velhinha, passava os dias a ressacar e tudo o que plantava, murchava, bem que ela usava a sua urina e a urina de ratos do campo, mas não tinham a mesma consistência da água do rio Franzião. O dia de Natal aproximava a passos largos e a tristeza apodera-se da casa da pobre velhinha, já acamada e sem droga, rezou pela ultima vez e pediu ajuda a Deus. Durante dois dias e sem comer, pediu ajuda. Passados 4 dias, foi ouvida e apresentou-se no tribunal. Foi finalmente julgada pelo tribunal dos Céus. Entre outros, o procurador era o São Pedro. No centro estava Deus, cheio de cólicas, mas muito altivo. Ali ficou durante várias horas, até ser absolvida e suas preces foram acedidas. No dia seguinte, gruas celestiais, moveram o complexo hoteleiro, para o vale do Berço, onde corria o rio Bentes. Mais conhecido como o vale da cagada. Ai os turistas podiam usufruiu das descargas consecutivas das ETARs dos concelhos limítrofes e tomar banho num dos rios mais sem descrição que havia na altura.
A pobre velhinha, que estava acamada, teve forças ainda para erguer uma pequena estufa e conseguiu manter durante algum tempo uma arvore de coca, uns quantos pés de erva e um pedacinho de ópio. Diz quem se lembra, que no dia de Natal, nevou coca no monte Alfores e todos correram em alegria para junto da velhinha. Foram todos muito felizes e os maus ficaram com uns gandas cornos! O Pai Natal apareceu e em troca de umas quantas prendas, levou 10 gramas e espalhou pela barba. Foi o Natal mais alucinado de todos os séculos.
Reza a história, e se conseguirem dar com o monte, que a velhinha ainda é viva e toca guitarra melhor que o Keith Richards.
Félix Natal!
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CU menta!