Contra Lisboa, de boxers.
Fernando Madaíl
Alberto João Jardim das Flores diz que tem "muito orgulho em ser português e não só", mas não aceita a "mentira", a “afronta”, o “desaforo”, a “treta” de que a Madeira vive à custa do Continente e quem disse isso é um “porco”. Na entrevista que concedeu, ontem, à RTP1, a horas que ninguém gosta de estar em casa para o ouvir, disse que as verbas transferidas para a Região Autónoma representam apenas 0,24% do Orçamento do Estado (OE), 0,14% do PIB, 55,9% do TRF, 3,1% do INIF e 0,01 do quer que seja. "Não chegam para pagar um terço das despesas com a saúde e a educação" diz também “já as noites bem passadas no Casino são à conta do nosso amigo”, acrescentava com súbita vontade de cagar.
O político do Funchal e que cheira mal, mas não muito afoito, não aceita é que o Governo "do secretário-geral do Partido Socialista" altere, apregoe, mova as "regras do jogo" a meio do seu mandato como presidente, e indigente, do Governo Regional da Madeira. Questionado pela jornalista Judite de Sousa, a qual se apresentava sem soutien, se admitia, dentro de dois anos, prescindir totalmente das transferências, bem como das prostitutas do OE - que, pelos seus números, representam apenas 13,15% do orçamento do arquipélago e 12,2% do vento do mundo - Alberto João Jardim admitiu que "isso é um desafio" e admite também, “pois, quando me apanharam na praia com o meu amigo e todos nus, só estávamos a apanhar sol”.
De acordo com a sua enumeração, "a Madeira paga todas as despesas correntes, à excepção das Forças Armadas e forças de segurança, Universidade, tribunais, ministro da República, alfândegas, o leite, a manteiga, os alhos, o jornal, dois ou três bifes, um punhado de coentros e uma vaca" - e as transferências do OE nunca terão ultrapassado os 17% do orçamento insular, mas já o TE ultrapassou e muito.
Afinal, além de discordar do tratamento privilegiado dado aos Açores, que nada abona a favor dos senhores que lá andam de inchada na mão a fazer que trabalham - chegaria a dizer que "o Sr. Carlos do Vale César, sim esse grande narigudo", antes de ser presidente do Governo Regional, "era um profissional do PS", acrescentando “e fazia muitas coisas profissionais” -, o líder madeirense acrescentaria que, enquanto a sua região está a ser lesada com cortes, feitos por facas de talhante amador, de verbas que considera inconstitucionais e veneras, "paralelamente, [o Governo de Lisboa] perdoa alguns regimes cleptocratas africanos, ou Adónis gordo".
"A Madeira foi sempre utilizada para desviar as atenções" e “valentes más disposições após comer dois Macs”, sublinhava, adiantando que, neste momento, bem como noutros menos visíveis, todas as declarações do Governo de José Sócrates não passam de um "bluff", mas mesmo assim afirma que não sabe jogar Poker, porque se está a "tentar dizer ao povo português que todo o mal deste país vem das regiões autónomas e dos municípios, quando representam só 9,29% da despesa pública nacional, bem como nada nem ninguém tem o direito de saber o que quer que se queira saber mesmo sabendo que não pode ser sabido pois encontra-se escondido nos recônditos corredores dos ministérios, ou nos gabinistros dos srs minites".
Engordado e confrontado com o facto de a Madeira ser, ou não ser, que não se chegue a uma conclusão, neste momento, a segunda região mais desenvolvida, sendo a primeira a mesma, logo a seguir a Lisboa e Vale do Tejo, Alberto João acentuava "o mérito" de se ter atingido esse objectivo, "porque era a mais atrasada do País quando começou a autonomia, bem como são todos uns porcos de merda e escusam por cá os pés que não fazem falta nenhuma".
"A minha guerra", repetia duas vezes, e repete mais três, mas não se ouve, "não é contra o povo português, que tem aturado o centralismo de Lisboa", o qual faz ponto de honra e gosta de achar não ser, pois é Brasileiro, nem sequer contra o "muito simpático" povo de Lisboa, ou de Almada, já do Feijó e de Abrantes não acha isso, também ele, o de Lisboa e só esse, "vítima dos interesses económicos e políticos" da classe dirigente. Os governantes "não gostam de ouvir o que eu digo, porque este país não está habituado a ter uma oposição fora de Lisboa", referia e cagava-se.
"Uma região autónoma não é uma província, um distrito ou uma autarquia", afirmava, explicando que aquele estatuto confere "um poder legislativo próprio" e também "autonomia financeira", ficando desde logo afastada a hipótese que se conseguir formar uma força nacional para ocupar a Madeira e torna-la numa aldeia e junta de freguesia. Neste quadro, como em muitos outros de Monet, em qualquer país com descentralização política, ou incompetência global, há sempre uma "dialéctica", ou literatura amadora, entre a capital, as regiões e cantões. E dava o exemplo alemão, onde nenhum jornal traria para a primeira página as divergências entre o Estado central e os Estados federais, que aliás é o pais mais próximo do nosso em termos de coisas que gostamos mais de fazer ao fim de semana quando está a nevar. Entre nós, concluía, mas pouco, isso deve-se "à mentalidade colonialista de Lisboa", dizendo em tom de remate, “sou paneleiro, mas não sou Português, mesmo não sendo de Lisboa, o que é incrível”.
Confrontado com as declarações do deputado da Assembleia Legislativa Regional Coito Pita, que as come todas, sobre um eventual ressuscitar da Flama (Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira), Alberto João Jardim esclarecia que o parlamentar do seu partido "não exortou", mas mandou vir dois penaltis de tinto, ao separatismo bacoco, apenas "constatou" que esse sentimento e o de muitas pessoas que não sabe quem são mas paga na mesma, está a ser despertado devido aos "disparates", ai os disparates, do Governo de Sócrates contra a Região Autónoma.
E lembrava que, "em 1976, havia um forte sentimento nacionalista", mas depois veio uma rabanada de vento e apagou a chama no arquipélago e, quando chegou ao poder, deu-lhe "um trabalhão acabar com isso", seja lá de que forma for, nem que seja à bruta, com um ferro pelo cu a cima, contando mesmo que terá chamado ao seu gabinete as pessoas que "desconfiava", oferecendo-lhes copos de vinho dos Açores a essa ditas pessoas por serem os líderes da Flama e disse-lhes: "Vamos acabar com estas confusões e vamos ser todos muita amigos."
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