Na nave do meu amigo está um cheiro muito mau, diz-me ele que o gato não aparece há duas semanas. Parece-me que seria de bom tom procurar a origem do cheiro, mas por outro lado há qualquer coisa que me impele a deixá-lo estar. Digo-lhe que já volto, ele pergunta-me se estou bem, mas para que ele não desconfiasse digo-lhe que estou com cólicas, ele nem quis saber mais nada.
Saio da torre e volto à esquerda para a casa de banho, deixo a porta fechar e volto para o sentido oposto. O cheiro ali era mais intenso. Procurei algo que iluminasse o caminho, encontrei uma velha lanterna americana, ainda tinha baterias, daquelas que causam cancro na retina. Liguei-a e afastei-a o máximo da cara. O meu amigo para poupar no combustível tinha sempre menos de metade das luzes ligadas. Devia cerca de 4 biliões de trintos a um comerciante de fruta gigante e não tinha lá muito dinheiro para o combustível. Já tinha mudado para o meta-carbono-inflamo-gasóleo que era bem mais barato que o soro-de-bafo-de-ganso, muito energético por sinal. Assim sendo caminhei por entre a semi bruma e procurei rasto do animal. O som muito ténue vinha da casa do gerador de impulsos maus, parecia o mesmo som de um arroto prolongado, em fluxos repetidos de duas horas. Dirigi-me para lá. A sala onde está o GIM é toda forrada a papel de parede com alusões ao Natal da rica Checoslováquia, mas mal colado. Algumas das tiras de papel estão coladas ao contrário, de cabeça para baixo, o que faz com que tenhamos a sensação de já lá termos estado. O som era cada vez mais forte, vinha agora detrás de um painel de intrumentos fictício. Coloquei o ouvido no painel e esperei. Passados quinze minutos, o som ecoou na minha alma. Aí precebi o que se passava. O meu bizavô tinha voltado dos mortos na forma do gato. O assustador pensamento percorreu a minha nuca. Se o cheiro está assim intenso, o que fará quando o bisavô começar a espirrar! Corri o máximo que pude, caí cerca de sessenta e sete vezes, por fim cheguei perto do meu amigo e expliquei-lhe a minha versão dos factos, ao que ele com uma leve indiferença, retorquiu: Sim, eu sei. Pensei que nada podia fazer para o salvar e saí.
Durante cerca de 27 anos que não o vi. Outro dia passava eu de muletas, último modelo e vejo-o. Imponente, exuberante, todo inchado com o cabrão do gato à tira-colo. Chamei-o, reconheceu-me logo apesar das muletas, que fez peremptória questão das invejar como era seu apanágio. Dialogámos um pouco, não foi necessário muito, tinha que lhe perguntar. E perguntei: Mas o gato não espirrou? Ele olhou-me nos olhos, fez uma má cara e respondeu: Que espirro?
No dia seguinte, o número de mortos foi incalculável, não havia memória de tal acontecimento, de tal desgraça em toda a galáxia, tal cheiro não era deste mundo, como um leve e quase insignificante espirro poderia ser tão avassalador!
Só passados 3201 anos é que foi descoberta real razão para o acontecimento. Os Lords da Lingusténia tinham capturado a fórmula química do espirro do meu bisavô e adicionaram-lhe raspas de pele de zebra. Deram de comer ao gato do meu amigo. O preparo tinha uma idade de germinação de 27 e qualquer coisa anos. O efeito do preparo nas fossas nasais dos indivíduos de estatura mediana quadrática é quase mortal, se contarmos com o enquadramento da palavra, enfastiado, é morte súbita!
Após esta descoberta os Lords da Lingusténia foram todos condenados a governar durante alguns dias (os que lhes deixassem), um país pequeno lá para os lados do Atlântico.
Bom qualquer coisa para todos vós!
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CU menta!