quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

2 + 2 não é 7?

 - Rita?

- Sim...

- Porque tens ao lume duas panelas?

- Porque nunca sei qual delas é a mais vantajosa...

 

Este era o tema de conversa na Segunda-feira.

Qual a vantagem de ter duas hipóteses, quando podemos ter 1001?

 

Na verdade, a esperança de vida encarrega-se de responder a isso, por outro lado, há um ditado antigo que diz: Eu estou muito velho (mas muito novo). *

      *Procurei durante duas horas pelo ditado mais parvo do mundo e foi esse o eleito.

 

Quando pensamos em toda a latitude, ambígua escondida neste ditado antigo, sabemos que somos só um grão de pó, numa imensa latrina. O nosso âmago deixa-nos privados de sabedoria e a nossa razão inundada de certezas incertas.

 

No vislumbre de uma hipótese correcta, enchemo-nos de hipóteses, num emaranhado de questões analisadas por outros, que pensam e pensam, sabendo sempre que por mais que pensem, irão sempre tirar a conclusão incerta, certa para a altura em que é tomada, mas que pode muito bem ser incerta, por não ter sido introduzida mais uma hipótese.

 

Na mente humana só há uma hipótese: sobreviver.

 

Porque razão é que tentamos que outros sobrevivam? Porque nos fazem companhia? Mas a companhia mantém a sobrevivência? Estranho... pois entre dois (ou mais, não é há aqui a cena do casalinho, ok?) seres que querem-se manter vivos, deviam aniquilar o outro, para que consigam sobreviver em paz, sem ter de partilhar, fazer guerra, ter menos, ou mais que o outro, etc, etc... um sem fim de coisas sem sentido.

 

Será que a sobrevivência terá de ser sempre encarada como uma coisa colectiva? Porquê? Para quê duas penelas, duas hipóteses? Quando sabemos sempre à partida que uma delas é melhor...

 

Depois há o problema dos descentes, a prolongação da prolongação, de descendência, que nos descende das nossas dúvidas, incertezas, amores, desamores, vitórias, anarquias e por fim, a relação impensável com um ser, que nos pode levar à morte, mas isso é absolutamente irrelevante! Nesse caso há a “cena” dos dois tachos? Não… é que nem se pensa, o tacho que é a continuação, será sempre para manter cheio, ligado e ventajoso. Então será por isso que numa das religiões dizem que somos todos filhos de um só? Assim é mais fácil não ter dúvidas? Mas isso leva-nos a pensar que sou irmão da minha mãe… será normal? Ou não é para levar de uma forma literal? Não?! Então? É a brincar?! É um faz da conta, para que eu não me sinta mais, do que ela/e? Ou seja, voltamos ao mesmo: mais vale ter dois tachos ao mesmo tempo…

 

Gostava de terminar este orgasmo banal, com uma conclusão, mas o meu signo não o deixa. Logo... ponham sempre duas panelas ao lume, não vá o diabo tecê-las...

… por outro lado: na verdade isto tudo deixa de ter sentido, quando tens só uma boca do fogão…

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

E se....?

 O frio gelado que percorria a rua, não tinha orientação, nem sentido, soprava certo de sítios que não sabemos ainda como os descrever, ou sequer se têm de ser descritos.

No fundo da rua um cão cruzava a rua, fitando quem passava, numa atitude desafiadora, mas ao mesmo tempo vagabunda. Há muito que as janelas das casas térreas se mantinham negras, sem luz e vida. As luzes exteriores dos candeeiros velhos e corroídos pelo sal do mar, cintilavam ténues e sem vontade e aquecer seja quem fosse, muito menos dar vislumbre a um pedaço de animal que jazia na beira do passeio. O cão, de olfacto apurado e magro que nem um cão, salivava, tal como eu, mas por razões bem diferentes. A minha fome não iria ser saciada por um pobre pedaço de pombo, a minha fome iria ser saciada na energia libertada entre a guerra que se iria apoderar de mim, na luta entre o canídeo e o humano desarmado e, por conseguinte, à partida sem qualquer hipótese de vencer.

No entanto, a determinação da luta, da vontade de conseguir ter algum tipo de vitória, mesmo que fosse ténue, apoderou-se a cada segundo de mim. O cão, farejava em delírio, só com o sentido do pedaço de pombo infecto. Mas por outro lado, todo o tamanho do humano, transformou-se num pedaço de bovino suculento. Os olhos maiores que a boca, trespassavam o meu peito, na busca da sede ser consumida. Nada podia fazer, senão lutar.

Como humano, poderia ter várias soluções, entre elas, o bluff que poderia ganhar uma luta desigual, ao imitir sons que apavorassem o pobre cão enfraquecido pelo jejum, ou então, pegar mesmo no animal em peso e partir-lhe a coluna, mesmo que isso envolvesse ser perfurado por caninos de uma força que esmaga, mas iria conseguir recuperar e por outro lado, o pobre coitado não.

Pensei de outra forma. E se lhe desse de comer e ficasse amigo dele?

Ainda hoje caminha ao meu lado e não há igual.