Quem é aquele?
Corria o ano de 1934 e nada podia fazer senão entender o que
se passava. Chovia copiosamente, as ruas mais pareciam rios das Monções. Nunca
se tinha visto tanta água a cair do céu! Porém, um sábio Ansião dizia:
- Já em 22 os rios de encheram e a ribeira da Artosca
transbordou.
Nada me confortava. Ter visto os meus poemas a irem rio abaixo,
tornou-me insensível a qualquer tipo de dor alheia. Uma vaca que se afoga? Uma
velhinha que berra por socorro, com água pelas axilas? Nada, um eterno e
estrondoso vazio percorre as minhas veias negras de descrédito no universo!
- Mas que mal fiz eu a quem quer que fosse?
A Deus? Sim, poderia ter sido, mas nem Ele se assoma e tem a
coragem de dizer:
- Tu tens uma marreca!
Ou então... a tia da Anica, que me dizia no outro dia:
- Felício, tem cuidado, que estás à beira do poço...
Se cai? Claro! Se me levantei? Um rasgo na face, que ainda
hoje me acompanha e, uma farpa de tijolo na nádega direita. Mais de resto, umas
costelas rachadas e o ego ferido, por ter dito ao Carlitos que conseguia ler
poemas do Zé Pilintra, contornando o dito... poço, claro!
Adiante. No dia seguinte, depois de lavar tudo com aguarrás
(ou seria raz?) e esfregar com pedra pomes, dei comigo a pensar:
- Afinal quanto dinheiro gastei ontem naquilo tudo?
Pensamento que tenho quase a certeza se abateu sobre quase
todos nós, após uma noite de mil tascas e desvairos.... Seguindo estas notas,
congeminei uma audaz canção de saudade:
Ó ardor do meu peito
Que feito me traz amor
Na rua do nunca ter visto
Um imprevisto, te tornou nua
Nada, nada
Fada, amada
Galopa agora errada
Amada morta na tropa
O Verão foi-se e agora?
Morta é a flor do coração!
Nada, nada
Fada, mata!
Como dizia: corria o ano de 1934 e por ser Outono, tudo
fazia mais sentido, pois a vindima tinha começado e a minha Efigénia estava de
volta!
Fabuloso! Só não me consigo lembrar quem foi o tipo que me levou a mula para
casa…
Bom!! Vale a pena voltar aqui sempre!!
ResponderEliminarÉ sempre bom ouvi-lo! Ovo? Não... ouvir. Ovo-lo? Não!
EliminarGostei e fez-me viajar em nostalgia a um passado já algo distante, não pela queda do Felício mas pela queda do autor para a prosa.
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