segunda-feira, 6 de março de 2006

Espero?

Espero ou não?
Tinha guardado tudo, aliás, muito bem guardado, tão bem que já me tinha esquecido de algumas coisas. Guardei tudo e pus naftalina por cima, sim, ainda era do tempo em que se usava essas merdas... Mas num dia de tempestade, ouvi-te chorar, pedias ajuda, pensei: Conheço esta voz!
E como uma força da natureza que não sabemos controlar, acedi ao chamamento.
Tal como a Natureza, a tua força é fora do comum, não a consigo controlar, não sei controlar, soube uma vez e disse que nunca mais o faria, mas agora... que devia, não consigo. Depois de te enxugar as grossas lágrimas, não resisti, toquei-te, estremeci e desarrumei tudo, tudo o que estava guardado e cheio de cheiro de naftalina, ficou exposto, ao ar, como os lençóis num estendal de uma casa de campo, brancos como a neve, com o cheiro de milhares de flores da Primavera e tudo voltou.
Como da outra vez, em que as guardei, desta vez há algo que as fazem estar guardadas, a razão é a mesma, mas desta vez ao contrário. Estaremos condenados? Se sim, era melhor saber desarrumar. Se não... espero? O tempo não importa... Mas espero? Já sei, não espero! Não?... Tudo indica que não deva, mas sabes...
Vou-te ouvir e vou ficando, vou também arrumando tudo de novo, muito devagar, sem grandes pressas, sem ter que o fazer de propósito, sem achar que é melhor o fazer já, vou deixar rolar, como quem lança uma pedra pela encosta e a vê rolar, até a deixar de ver.
Quem sabe se para a próxima não desarrume tudo, e tu também, mas desta vez que seja de vez.

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